sexta-feira, 24 de abril de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 19 - Paredões - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 23.04.2020


O próximo domingo, dia 26, marca as celebrações, no Brasil, do dia do goleiro. O Bahia sempre me pareceu muito bem servido nessa posição. Quando me atrevo a realizar a hercúlea tarefa de escalar uma seleção dos melhores jogadores do Tricolor que vi jogar, ciente de todo tipo de injustiça, costumo promover um revezamento entre três nomes com a camisa 1 do meu escrete: Ronaldo Passos, Jean e Emerson.

Ronaldo foi o primeiro goleiro que lembro de ter acompanhado no Bahia. Ele, que esteve no clube durante praticamente toda a década de 1980, era considerado baixo para a posição, mas compensava com uma impulsão que impressionava. Na campanha do título brasileiro de 1988, começou como titular, sofreu uma lesão, mas retornou na fase final, quando foi fundamental para a conquista. É apontado pelos companheiros como decisivo nos confrontos contra o Sport, pelas quartas-de-final. Brilhou demais também na decisão contra o Inter, em Porto Alegre.

A segunda estrela teve contribuição decisiva também de Sidmar, que assumiu a titularidade após a lesão de Ronaldo. Teve atuações memoráveis naquela competição, até deixar o clube antes da fase final, por questões contratuais. 

Se Ronaldo dominou a década de 1980, grande nome da posição nos anos 1990 foi Jean. O primeiro da família a fazer sucesso na meta tricolor, anos antes de ver o próprio filho, homônimo, se destacar na mesma posição. Ele estreou em 1992. Em 1994, fez uma temporada espetacular, fundamental no título baiano do inesquecível gol de Raudinei e um dos principais nomes da posição no Brasileiro quando o Bahia chegou entre os oito melhores. Foi bem também em 1995 e 1996. Após um ano no Cruzeiro retornou em 1998, conquistando o título baiano.

Emerson chegou ao clube em 2000, ano seguinte à conquista da Copa do Brasil pelo Juventude, quando chamou a atenção e foi carrasco do Tricolor no confronto pelas quartas-de-final. Foi muito bem principalmente em suas três primeiras temporadas. Na segunda, em 2001, foi o melhor goleiro do Brasileiro. Deixou o clube no final de 2005. Era um líder nato, além de ser muito tranquilo e seguro.

Também sou fã de outros arqueiros que guardaram muito bem a nossa meta. Nessa coluna, já externei a minha admiração por dois estrangeiros dos anos 1990. O uruguaio Rodolfo Rodríguez (1993 e 1994) e o camaronês William Andem (1997). 

Na primeira década do novo milênio, outros nomes tiveram curtos, mas bons momentos. Como Márcio, revelado na base do clube, que teve seu grande momento em 2004. Marcelo se destacou em 2009 e 2010. Fernando Leal chegou em 2008 ao clube e foi titular no acesso para a Série A em 2010, depois da suspensão de Renê.

Na década atual, Marcelo Lomba foi o primeiro a se destacar. Titular de 2011 a 2014, passou um ano na Ponte Preta e retornou em 2016, mas não conseguiu repetir o rendimento anterior e deixou o clube. Muriel chegou e foi fundamental no acesso para a Série A em 2016. No ano seguinte, Jean, o filho, que fez uma temporada irretocável. Não poderia também deixar de destacar Douglas (desde 2018) e Anderson (desde 2016), atuais principais goleiros do elenco tricolor.

Faço aqui também menção a outros grandes arqueiros que defenderam a meta tricolor antes que eu começasse a acompanhar o futebol, como Nadinho, campeão brasileiro pelo clube em 1959, o argentino Carlos Buttice (1972 a 1974), Joel Mendes (75 a 77), Renato 74 (70 a 72), Luis Antônio (75 a 80), outro Renato (79 a 82), que trazia a experiência de ter participado de Copa do Mundo em 1974.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 23.04.2020

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 18 - Craques feitos em casa - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 16.04.2020


A antiga Fonte Nova recebia pouco mais de 15 mil pessoas, o Bahia enfrentava o Corinthians, então líder de um dos grupos do Brasileiro, e tinha conseguido marcar um gol depois de três jogos em branco, mas o resultado ainda estava indefinido, até que, aos 45 minutos do segundo tempo, Marquinhos ajeitou de cabeça, depois de cruzamento Zé Carlos, e Charles Fabian dominou, girou e, sem deixar cair, chutou de virada, estufando as redes, garantindo o triunfo por 2 a 0.

No domingo passado (12/4), aquele garoto promissor, de 21 anos, do município baiano de Itapetinga, comemorou 52 anos de vida, depois de uma carreira muito bem sucedida e de ter escrito para sempre o nome na história do Bahia, como um dos grandes nomes, sendo o 19º maior artilheiro do clube, com 68 gols marcados.

O lance descrito no primeiro parágrafo foi o primeiro gol do camisa 9 na campanha do título brasileiro de 1988, depois de sair do banco. Charles é um dos jogadores formados na base do Bahia que podem ser tranquilamente chamados de craque e foi fundamental para a conquista da segunda estrela tricolor.

Ele voltou a marcar contra o Criciúma, Santos e Sport. Na partida de ida das quartas-de-final, na Ilha do Retiro, o gol foi fundamental para a conquista, afinal o Tricolor avançou à semifinal após eliminar o rubro-negro pernambucano após empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação do jogo de volta em Salvador.

Charles também participou de outra grande campanha do Bahia no Campeonato Brasileiro. Dessa vez, em 1990, quando o clube chegou entre os quatro melhores, na semifinal. Com 11 gols marcados, ele terminou como artilheiro da competição. Apenas ele e Léo Briglia, em 1959, alcançaram esse feito no Esquadrão. 

No próximo domingo, dia 19, outro craque formado em casa no Bahia estará comemorando aniversário. O meia-atacante Uéslei, o Pitbull, quarto maior artilheiro da história do clube, com 140 gols marcados em quatro passagens pelo clube.

Uéslei começou a chamar a atenção em 1992, jogando como volante e até lateral. A ascensão do menino, também baiano, mas de Salvador, da Capelinha, foi interrompida por uma entrada violenta do zagueiro Agnaldo Liz, em um Ba-Vi de 1993, que rendeu fraturas e um longo afastamento dos gramados.

Mas o Pitbull estava destinado a ser um dos maiores da história do Bahia e teve uma temporada impressionante em 1994, como meia. No primeiro semestre, foi um dos destaques da campanha de recuperação que culminou no bicampeonato baiano, com o inesquecível gol de Raudinei, e, no segundo semestre, também foi um dos expoentes do time que fez grandes jogos e chegou entre os oito melhores do Brasileiro, ao lado de Marcelo Ramos e Jean, todos formados no Fazendão, o time titular contava ainda com Ronald, Samuel e Paulo Emílio, também pratas da casa.

Depois da temporada, passou por outros clubes, até voltar em 1998, em um time que ganhou o Baiano, mas foi mal na Série B. Após empréstimo para o Internacional, retornou em 1999 e brilhou como atacante, cansando de balançar as redes adversárias, terminando como artilheiro da Série B, com 25 gols, 11 a mais do que o vice-artilheiro, Robgol, do ABC, que brilharia no Bahia posteriormente. 

Na premiação Chuteira de Ouro de 1999, da revista Placar, ficou em quarto lugar nos critérios de pontuação, mas em número absoluto de gols registrou 50, enquanto o vencedor Romário, 46. Apenas na quarta passagem, em 2005, não rendeu. Não apagou, entretanto, todas as alegrias proporcionadas anteriormente.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 16.04.2020

sábado, 11 de abril de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 17 - Talento de sobra - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 09.04.2020


Quando ele partia com a bola dominada, era difícil alguém desarmar. Arrancadas, inteligência, pensamentos rápidos, boa finalização, faziam parte dos atributos de um dos grandes heróis da minha infância, que chegou ao Bahia há 30 anos, para honrar a camisa 10. Depois do meia-atacante Luís Henrique, nenhum outro jogador foi convocado para a Seleção Brasileira principal enquanto atuava pelo clube.

Há 30 anos, também, o Bahia fazia grande campanha no Campeonato Brasileiro. O time chegou à semifinal, contando com esse craque discreto como um dos grandes destaques. Ele teve atuações inesquecíveis, como na goleada contra o Fluminense, por 4 a 1, nas Laranjeiras, quando deu um drible mágico antes de sofrer um pênalti, e ainda fez um golaço.
 
O time de 1990 era muito forte e terminou a competição em quarto lugar, com 26 pontos em 23 jogos, perdendo apenas cinco vezes. Foram oito triunfos e 10 empates. Na época, uma equipe computava apenas dois pontos a cada partida vencida, por isso a pontuação geral pode parecer baixa, mas o Corinthians, campeão e time que mais pontuou na competição, fez 32, apenas seis pontos à frente, com dois jogos a mais. É uma das melhores equipes do Bahia que vi jogar. 

Além de Luís Henrique, o time tinha outros grandes expoentes. Contava com quatro remanescentes da equipe titular do título brasileiro de 1988: os meio-campistas Gil Sergipano e Paulo Rodrigues e os atacantes Marquinhos e Charles, grande estrela do elenco, com status de jogador de Seleção Brasileira. Ele, inclusive, confirmou o papel de protagonista, garantindo a artilharia da competição, com 11 gols marcados. Foram 44% dos tentos marcados pelo segundo melhor ataque do torneio.

Naldinho, que já havia jogado com Luís Henrique na Catuense, também fez um campeonato impressionante, desmontando defesas com muita velocidade e dribles incríveis. Além de Charles, o time contava com outro representante da base, o lateral Maílson, um dos melhores da posição na história do clube. 

A dupla de zaga titular também se destacou e teve grande responsabilidade no fato de o clube ter garantido a terceira melhor defesa da competição em média de gols sofridos. Jorginho, irmão de Júnior Baiano, na jogada aérea, e Wagner Basílio, nas cobranças de falta, também colaboravam ofensivamente.  

O time-base, comandado por Candinho, era formado por: Chico, Maílson, Jorginho, Wagner Basílio e Gléber; Gil, Paulo Rodrigues e Luís Henrique; Naldinho, Marquinhos e Charles. O volante Delacir foi titular durante metade da campanha. O atacante Hélio começou jogando apenas uma vez, mas saiu do banco outras 11 vezes. O goleiro Ricardo Dantas, o lateral Gilvan e os meio-campistas Marcelo Jorge e Renatinho foram alguns dos outros nomes com participação na competição.

No primeiro jogo da semifinal, um jogão, o Tricolor aumentou a esperança de que o terceiro título brasileiro poderia estar a caminho, quando, logo no início, Wagner Basílio cobrou bem uma falta e abriu o placar no Pacaembu, com 40 mil presentes, mas um gol contra de Paulo Rodrigues e outro do grande herói do título corintiano, Neto, fizeram com que o Corinthians levasse a vantagem do empate para a Fonte.    

A torcida encheu a Fonte Nova, com quase 65 mil pagantes, para o jogo de volta, mas o Corinthians segurou o empate sem gols e acabou com o sonho tricolor. Ainda assim, ficam grandes memórias daquele ano, como os emocionantes confrontos das quartas-de-final, quando, depois de um empate em 1 a 1 fora de casa, o Bahia passou pelo time paulista em um emocionante triunfo, por 3 a 2.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 09.04.2020

sábado, 4 de abril de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 16 - Importados - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 02.04.2020


Desde que a atual temporada começou, o nome do colombiano Stiven Mendoza já foi levantado um incontável número de vezes como possível reforço para o Bahia. E, com a atual parada, novamente as especulações foram retomadas. Não tenho informação privilegiada sobre a possibilidade de que esse antigo interesse de ambas as partes possa realmente ser transformado em realidade em 2020, mas aproveito para falar sobre alguns estrangeiros que vestiram a camisa do Bahia em outras temporadas, como o próprio jogador do Amiens, da França, que teve uma rápida (como ele), mas exitosa passagem pelo Esquadrão em 2017.

Na atual década (de 2011 a 2020), essa é apenas a segunda temporada em que o clube não conta com nenhum representante de outros países no elenco. A primeira foi em 2016. Nesse período foram 14 estrangeiros contratados. Quando eu era mais novo, era muito mais raro ver estrangeiros no futebol brasileiro. E, no Bahia, ainda mais. Na década de 1990, na minha adolescência, tenho a forte lembrança apenas de dois jogadores de outros países com a camisa tricolor. Por coincidência os dois eram goleiros: Rodolfo Rodríguez e William Andem.

O primeiro, uruguaio, é um dos grandes goleiros que vi no Bahia. Os mais jovens, que não acompanharam a trajetória dele, talvez tenham uma visão equivocada sobre a passagem dele pelo Esquadrão, motivada por aquele clássico gol que ele sofreu de Ronaldo, o Fenômeno, em uma goleada sofrida para o Cruzeiro. 

No entanto, ele foi muito mais que isso. Memória afetiva, ou não, o que me recordo é do uruguaio fechando o gol em diversas oportunidades, principalmente no Baiano de 1993, quando foi fundamental em toda a campanha, em que o Bahia foi campeão de ponta a ponta, conquistando os quatro turnos. Outra lembrança forte que tenho do arqueiro foi a corrida que ele deu até o vestiário do Inter, na Fonte, para tirar satisfações com o atacante Paulinho McLaren, após um triunfo do Tricolor por 5 a 4.

Aviso que a memória afetiva também pode influenciar a minha avaliação sobre William Andem, arqueiro de Camarões. A entrega que ele demonstrava a cada jogo compensava, para mim, o fato de ser um pouco atrapalhado. Foi titular em 1997, uma temporada para esquecer, mas que deixou a lembrança desse folclórico personagem.

O estrangeiro que mais gostei de ver atuando pelo Tricolor jogou ao lado de Mendoza. O meia argentino Agustín Lionel Allione vestiu a lendária camisa 8 do Bahia nas temporadas 2017 e 2018. Embora não tenha dado certo após o regresso em 2018, por seguidos problemas físicos, foi um dos destaques na primeira temporada, na conquista da Copa do Nordeste e na campanha de recuperação no Brasileiro.

Máxi Biancucchi, de passagem conturbada pelo clube, foi outro argentino que eu gostava muito de ver no Bahia, nas temporadas 2014 e 2015. Vi ainda outros tantos estrangeiros com a camisa tricolor, como os argentinos Emanuel Biancucchi (2014), Paulo Rosales (2013), os colombianos Armero (2017), Tressor Moreno (2011), o paraguaio Pittoni (2014 e 2015), o chileno Mena (2018), o venezuelano Guerra (2019), o estadunidense Freddy Adu (2013) e o boliviano Luís Gutiérrez (2012).

Teve ainda gente muito boa de bola que eu não vi jogar, como o atacante argentino Sanfilippo, que provavelmente foi o melhor estrangeiro, e um dos melhores jogadores, a vestir a camisa tricolor. Ele conquistou os Baianos de 1970 e 1971. Dos que eu não vi, além dele, meu pai colabora com a coluna, destacando o goleiro Buttice e o defensor Paes, ambos também argentinos. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 02.04.2020