sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 34 - Prêmio de consolação? - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 06.08.2020

O tricampeonato baiano, se conquistado no próximo sábado (8/8), não pode ser encarado como mero prêmio de consolação. E nem serviria a tal contento. Correndo o risco de me tornar repetitivo, já que na semana passada falei sobre a importância pessoal que o estadual tem para mim, volto a alertar sobre o tema.

De primeira, sei como isso soa. Que eu estaria tentando engrandecer o Baiano, já que agora é o que resta como conquista possível nessa parte do ano. Ledo engano. Por sorte, nessa coluna, na semana passada, ainda empolgado com a classificação suada para a final do Nordeste, já deixava clara a minha opinião sobre o estadual.

Para começar, o Bahia não conquista um tri do Baiano desde 1988. Um feito que não foi repetido antes desses 32 anos não pode ser jamais considerado como algo simples ou corriqueiro. Não é. Fosse assim, o Esquadrão teria enfileirado outras sequências iguais ou superiores dentro desse intervalo de tempo. Fosse fácil, como se tenta, insistentemente, alardear, o Tricolor não teria voltado a vencer apenas em 2012, desde o título anterior em 2001.

A reorganização do clube pode ter devolvido ao Bahia o histórico favoritismo, que já estava esquecido. Deu ao torcedor o direito de almejar coisas mais grandiosas, mas não tornou fácil, nem muito menos transformou em uma mera formalidade ou obrigação vencer o Baiano. Tenho medo desse sentimento porque ele flerta com a prepotência e torna o próprio torcedor refém. Como comemorar com orgulho a conquista de uma competição que ele próprio desdenhou anteriormente?

Quando a questão é o Bahia, quem me conhece bem sabe que sou um otimista convicto. Sempre acredito na estrela tricolor, seja qual for a situação adversa. Sou o cara que achava possível a virada contra o Cruzeiro em 2003 até o sexto deles. A partir de então, já era demais até para mim.

Paradoxalmente ao meu otimismo em situações adversas, sou totalmente avesso a qualquer clima de “já ganhou”. Na verdade, confesso até ser medroso com relação a esse tema. Em parte, o medo vem pela tradicional superstição futebolística. O temor, entretanto, também envolve algo mais complexo. Acreditar que o Bahia tem o melhor elenco do Nordeste, eu acredito. Mas não considero que seja vexaminoso não ser campeão de uma competição que conta com outros três clubes de Série A, como Ceará, Fortaleza e Sport, sem contar outras forças tradicionais da região.

Não pense, você, entretanto, que eu não fiquei indignado. Considero como um vexame, sim, pela forma como o Bahia deixou de conquistar o quarto título da Copa do Nordeste. Ser anulado, como foi, em duas partidas contra o Ceará foi angustiante. O meu tal otimismo, por exemplo, foi embora com poucos minutos do jogo de terça pela falta de elementos que me dessem confiança. Esperei para escrever mais tarde porque foi duro dormir e mais ainda acordar com tamanha decepção. Tivesse escrito antes, minhas palavras teriam outro tom certamente.

Embora continue acreditando em boas campanhas no Brasileiro e na Sul-americana, pois os jogadores que foram muito mal na reta final do Nordeste não devem ter desaprendido a jogar, é inquestionável que a perda do título regional diante do único time de Série A enfrentado pelo Bahia no ano acende um sinal de alerta para o futuro na temporada. O time que voou contra o Náutico não saiu do chão contra os cearenses. Alguns jogadores que considero como titulares poderiam dar um tempo para outros em melhor momento. É preciso deixar o campo escalar o time. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 06.08.2020

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