quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Gangorra Nordestina

Leandro Silva
O internauta ***Marcelinho Chaves*** iniciou uma importante e oportuna discussão na comunidade "Mauro Beting" do orkut sobre a situação atual do futebol do Nordeste, com o rebaixamento dos seus dois únicos representantes na Série A, Fortaleza e Santa Cruz, e a situação do Bahia, porexemplo, na Série C, contrastando com o acesso de Sport, Náutico e América de Natal para a primeira divisão. As principais razões apontadas inicialmente foram ligadas à administrações, eu respondi a esse tópico e estou adaptando esta resposta para este blog:

Acho que a questão não se resume à qualidade de administração nos clubes nordestinos. Hoje a situação do futebol no Nordeste é desigual se comparada aos principais pólos do futebol no Brasil. Assim como é cada vez mais dificil a volta de um ou dois representantes da região norte na Série A. O futebol nordestino deve ter que conviver com essa gangorra, com uns esquentando o lugar na Série A, para que outros subam e desçam no ano seguinte por um bom tempo.

Com relação aos investimentos está praticamente impossível para os clubes da região competirem em igualdade de condições com equipes das outras regiões. Seria como se os clubes brasileiros disputassem campeonatos longos contra os principais clubes europeus. A diferença de mercado também é gritante. Todos nós sabemos que o São Paulo é o campeão mundial vencendo o Liverpool, e o Internacional poderá ser campeão vencendo o Barcelona, mas o tipo de torneio favorece que uma maior entrega dos jogadores e uma disposição maior para a marcação levem a uma vitória brasileira, mas se fosse em um campeonato longo, a estrutura e os maiores investimentos, logo seriam notados e a tendência é que os europeus levassem vantagem.

Assim está acontecendo na Série A. A mudança de formato para os pontos corridos e a diminuição do número de participantes criou um abismo maior ainda entre as regiões. No formato antigo, com mais clubes, além da maior chance de permanência dos nordestinos na Série A, estes times, como o Bahia, tinham desde o início do campeonato um objetivo claro: classificar entre os oito, e aí na hora do mata-mata, com a torcida empolgada tentar tirar os favoritos e numa luta de Davi contra Golias tentar chegar ao título.

Hoje em dia, qual o real objetivo dos clubes nordestinos? Tentar se manter na Série A. Não existe mais o vislumbramento de algo a mais. Além disso, hoje em dia muitos jogadores que vêm de outras regiões para o nordeste parece que esquecem o senso de profissionalismo por lá, e não demonstram o mínimo de comprometimento com a causa do clube que ele está "defendendo", parece que muitos resolvem tirar 6 meses ou 1 ano de férias nas belas praias nordestinas, não há administração que dê jeito.

Durante a discussão, surgiu a idéia de que os clubes nordestinos não teriam problemas financeiros pois eram os times que mais levariam torcedores aos estádios no Brasil. A presença dos seus torcedores nos estádios realmente é fortíssima nos times da região, mas no futebol profissional de hoje a receita com bilheteria é cada vez menos determinante na manutenção de uma grande equipe de futebol, ainda mais em uma região em que os ingressos costumam ser mais baratos do que nos outros estados, por exemplo. O que eu concordo que os clubes de massa da região deveriam fazer é saber explorar melhor as suas marcas, aproveitando a força das suas torcidas.

Claro que uma excelente adminsitração profissional, com seriedade e idéias novas, pode diminuir esse abismo e tentar compensar as dificuldades. Não é possível que os clubes do Nordeste apenas aceitem as limitações e acreditem numa hipótese de determinismo geográfico irreversível. O Goiás, acredito que seja uma exceção, no meio das regiões menos favorecidas com investimentos e visibilidade, e por isso mesmo deve ser encarado como modelo.

Ali sim os exemplos deveriam ser copiados. Eles investiram, bastante, em um reforço da imagem do clube, e muitos jogadores se interessam em jogar no clube pela sua organização e por ter uma imagem de que honra com os seus compromissos. A situação no Nordeste é tão complicada que as diretorias de Sport, Náutico e América que devem estar sendo festejadas, no próximo ano, se a tendência for mantida e estiverem na briga contra o rebaixamento, passarão a ser hostilizadas e responsabilizadas totalmente pelos insucessos dos clubes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário