segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Título para o Ice Man Pé-quente

Leandro Silva

Os olhos do mundo do automobilismo estavam voltados para a empolgante rivalidade entre Lewis Hamilton e Fernando Alonso, que fez lembrar os tempos românticos da Fórmula 1, mas, ontem, no Grande Prêmio do Brasil, quem roubou a cena foi o finlandês Kimi Raikkonen, da Ferrari. Ele venceu a prova e conquistou o Mundial de Fórmula 1 da temporada 2007.

Cotado como grande azarão na luta pelo título antes do início da corrida, Raikkonen surpreendeu e tirou a desvantagem de pontos que o separava dos rivais Hamilton e Alonso, depois de cruzar a linha de chegada em primeiro no circuito paulista de Interlagos.

Foi a sexta vitória do finlandês na temporada e a 15ª da carreira. Raikonnen terminou o campeonato com 110 pontos, um a mais que Lewis Hamilton e Fernando Alonso. O inglês ficou com o vice por ter um número maior de segundos lugares. Raikkonen é o terceiro piloto finlandês a se tornar campeão de Fórmula 1. Antes dele, Keke Rosberg, pai do piloto alemão Nico Rosberg, em 1982, e Mika Hakkinen, em 1998 e 1999, já tinham conquistado o título.

O Brasil também tem três campeões mundiais. Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. Mas ganha da Finlândia em número total de títulos. Oito do Brasil contra quatro da fria Finlândia.

A CORRIDA – Para ficar com o troféu na última corrida não bastou apenas talento ao campeão. Ele também contou com a ajuda do companheiro de equipe, Felipe Massa, que, na largada, deslocou sua Ferrari para a esquerda e bloqueou Hamilton, permitindo que Kimi o ultrapassasse. Alonso também se aproveitou e passou o inglês.

Por ironia, o ´Ice Man` teve que contar também com a sorte. Logo ele, tachado por muitos de pé-frio. A sorte lhe sorriu logo no início da prova, quando Hamilton tentou ultrapassar Alonso, se atrapalhou, e saiu da pista. Ele voltou apenas em oitavo. O favorito ao título tentava se recuperar quando teve problemas no câmbio. O carro desacelerou de repente e ficou muito lento. Pareceu que seria o fim de prova para o inglês.

Mas o carro voltou ao normal por si só depois que Hamilton já estava na 18ª colocação. Depois, o inglês teve que fazer uma corrida inteira de recuperação, chegando na sétima colocação, a duas posições do título. O espanhol Fernando Alonso não conseguiu superar as Ferrari e completou o pódio.

Enquanto Massa estava na frente de Raikkonen, o espanhol ficava com o tricampeonato nas mãos. Mas um eventual jogo de equipe da Ferrari para beneficiar o finlandês já era esperado.

E demorou. As Ferrari trocaram de posição apenas no segundo pit stop dos dois, na 50ª de um total de 71 voltas. A Ferrari antecipou o segundo pit stop de Felipe Massa, que parou na volta 49.

Mais leve que o companheiro, Raikkonen voou baixo, tirou a pequena diferença para o companheiro – em torno de dois segundos – e quando parou, duas voltas depois, conseguiu voltar à frente do brasileiro. Dali, o finlandês apenas passeou rumo ao sonhado título. Barrichello abandonou a prova na 41ª volta com problemas no motor.

HAMILTON – Em um momento da prova, o futuro do campeonato poderia ter sido decidido por dois pilotos que não tinham nada a ver com a disputa. Nico Rosberg, da Williams, e Robert Kubica, da BMW Sauber, disputavam metro a metro a quarta colocação e ficaram muito próximos de um choque por diversas vezes.

Se os dois se tocassem e saíssem da prova dariam o título de bandeja para o inglês Lewis Hamilton, que precisava ganhar exatamente duas posições para se tornar o mais jovem campeão mundial de Fórmula 1.

O primeiro negro da história da Fórmula 1 esteve com o título nas mãos nas duas últimas provas do campeonato, mas errou quando não poderia errar. Na corrida anterior, na China, o estreante também errou e adiou a decisão para Interlagos.

MASSA – O brasileiro Felipe Massa, da Ferrari, teve papel decisivo na conquista do título do companheiro Raikonnen, mas deve estar com uma pontinha de frustração por não ter conseguido vencer em casa pelo segundo ano consecutivo. Depois de ficar com a pole position no sábado e de liderar a prova de ontem até a 50ª volta, o segundo lugar, necessário para que o companheiro pudesse festejar deve ter tido um gosto bastante amargo. Massa nega.

O CAMPEONATO – A prova decisiva foi um retrato da temporada: emoção do início ao fim.
O título ficou com o piloto que venceu a primeira prova do ano, na Austrália. Mas depois daquela vitória, o finlandês só voltaria a receber a bandeirada em primeiro lugar na oitava prova da competição, na França.

Nas últimas dez provas, Raikonnen chegou noive vezes ao pódio. A Ferrari ficou com o título do Mundial de Construtores com 204 pontos, mais que o dobro dos pontos da segunda colocada BMW Sauber, que teve 101 pontos. A McLaren seria a campeão com 218 pontos, mas foi punida pela FIA pelo caso de espionagem em que se envolveu.

TÍTULO CONFIRMADO – O inglês Lewis Hamilton teve uma esperança de ser campeão mesmo depois da corrida. É que a FIA investigaria a gasolina utilizada pela Williams e pela BMW Sauber no GP do Brasil.

A acusação era de que os carros dessas equipes teriam utilizado gasolina com temperatura mais baixa que a permitida. Se as equipes fossem punidas, Rosberg, Kubica e Heidfeld perderiam os pontos e o maior beneficiado seria o inglês que pularia da sétima para a quarta colocação e ficaria com o título Mundial. Mas no meio da noite de ontem, a FIA confirmou o título para Kimi Raikonnen.

Matéria publicada originalmente no Jornal A Tarde do dia 22/10/2007

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