LEANDRO SILVA | Qual o segredo para grandes vitórias, a exemplo daquela contra
o São Paulo, no Morumbi, e a goleada contra o Santos?
EVARISTO DE MACEDO | Acho que o nosso time tinha uma coisa muito importante, que era a confiança.Quando nós fomos jogar contra o São Paulo, uma grande equipe, não tínhamos que estar preocupados com o ambiente que envolvia o jogo. Porque, às vezes, nos deixamos levar... Nós enfrentamos essas boas equipes conscientes da nossa qualidade. Nós não fomos para jogar recuados. Jogamos de igual pra igual. Eles também tinham que se preocupar. Eles que se preocupassem com a gente. E se preocupavam. A verdade é essa.
LS | Aquelas declarações atribuídas ao senhor de que o time era fraco, eram só jogada?
EM | Deixa eu te explicar. A gente recebia críticas no início. Então, no deboche, a gente dava respostas como ‘Nosso time não joga nada, mesmo. Você tem razão’. Era uma resposta que não dizia a verdade, mas estava no mesmo nível do que era falado sobre nós. A gente, às vezes, faz umas concordâncias mais para contrariar o que foi dito do que para concordar. Confiei plenamente desde o início.
LS | Paulo Rodrigues gosta de dizer que alcançou um tempo em que o jogador quando dava um bico ficava com vergonha e que o time do Bahia era muito técnico. Era uma preocupação só dos jogadores?
EM | Era uma preocupação nossa. Nós escolhíamos jogadores técnicos. O único do time que era discutível era o Tarantini, que eu trouxe do interior. Acho que até por ser baiano. Ele nos ajudava muito ali atrás. Os outros jogadores eram tecnicamente muito
bons. O Bobô, o Zé Carlos, o Paulo Rodrigues... A grande virtude do nosso time era saber partir pra cima desde o início, pegar o time adversário de surpresa.
LS | Falando nisso, até hoje muitos dizem que o Bahia foi campeão ‘apesar de Tarantini’. O que o senhor acha disso?
EM | É um preconceito porque na época o Bahia tinha um lateral chamado Zanata, só que ele não se enquadrava nos moldes da equipe. Nós tínhamos uma equipe de rapazes dedicados. E ele não era. Chegava atrasado, não tinha o mesmo comprometimento. Eu cheguei à conclusão de que era melhor afastá-lo. Eu achava ele muito bom,mas essa
convivência dele com o grupo foi desgastando. E ficou na imagem da torcida aquele lateral que atacava, que subia. Mas, pra mim, o que interessava eram laterais
mais defensivos. Precisávamos de um lateral que cobrisse melhor o lado dele e ajudasse os zagueiros. Até porque eu liberava os volantes. Ele era um bom jogador.
Um jogador forte, que conhecia bem a posição dele. E isso não era muito entendido. Porque a ação ofensiva do Zanata, Zé Carlos fazia muito bem.
LS| E o senhor tem acompanhado o Bahia?
EM | Tenho. É uma coisa interessante porque os outros times gostam do Bahia e de ir à Bahia.Mas vamos torcer para melhorar. Anteontem (domingo passado), eu vi a vitória do Bahia sobre o Vitória, no Barradão. Vamos ver se, vencendo o regional, ganha uma
força pra Segunda Divisão. Eu gosto muito do Gallo. Foi meu jogador no Santos, sempre foi muito inteligente. E eu tô torcendo muito por ele. No dia que eu for aí
na Bahia, quero ir dar uma força pra ele. Eu sou Flamengo, mas tenho um carinho muito grande pelo Bahia. Acompanho muito de perto, aqui no computador, sempre que o Bahia joga.
LS | Como o senhor vê essa situação do Bahia longe da Fonte Nova, hoje interditada?
EM | Para o Bahia, é fundamental. O Bahia é Bahia com a Fonte Nova. Todos os grandes títulos que consegui com o Bahia, todos os grandes jogos, foram na Fonte Nova. É a casa do Bahia. É onde o adversário tem respeito. É igual a aqui no Rio de Janeiro. Você vai jogar contra o Flamengo, aí perguntam: ‘É no Maracanã?’. Já entra preocupado. É a mesma coisa. É preciso que a Fonte Nova volte,para o Bahia ser forte de novo. Estou acompanhando que o Bahia está se identificando com Pituaçu. Não tem nada a ver. Pituaçu e os outros campos são iguais. Não deixa de ser Pituaçu. A ligação do Bahia com a Fonte é extraordinária. A torcida vai gostar.Mas fica aquela saudade, pode ter certeza. A história do clube se confunde com a da Fonte Nova.
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