quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Alguns textos especiais sobre o título brasileiro de 1988 do Bahia

Leandro Silva e Nelson Barros Neto

Zanata confessa. Arrepende-se de ter trocado o Bahia pelo Palmeiras pouco antes do início do
campeonato. “Infelizmente, eu via pela TV e queria estar ali. Mas como é que eu ia advinhar?”,
lamenta, admitindo ter tido uma “briga feia” com Evaristo de Macedo na reta final do Estadual – embora ampare sua saída numa “proposta dobrada e mais perto da família”.
Um dos principais ídolos tricolores da época, talvez mesmo o maior, o lateral-direito relata o
sucesso que teve nas equipes por onde passou depois. E não deixa de provocar, em declaração
que – verdade – encontra eco em boa parte da torcida: “O time de 86 era bem melhor. Naquele,
sim, só tinha alto nível”.

Além de Zanata, Zé Carlos e Bobô, o escrete de ‘Titio’ Fantoni, recordista de jogos invictos no País, ainda contava com um inspirado Claudio Adão. Mas por que, então, parou nas quartas-
de-final do Brasileiro, eliminado que foi para o Guarani?

Citado, Bobô diz não existir uma resposta objetiva para explicar o feito de 88, com peças até hoje criticadas e início de campanha cambaleante. Bastam minutos de conversa, entretanto, para se começar a entender. “Acho que combinou um monte de coisas. Um bom treinador, um excelente time, entrosado, e acho que o entrosamento ali foi diferencial, porque a gente já vinha jogando
junto há dois, três anos. Então, todos nós nos conhecíamos”.

Continua o camisa 8: “Era um time muito forte, e tecnicamente muito bom. Ele tinha velocidade,
mas com muita qualidade técnica. Nós tínhamos o Charles no esplendor da forma dele, sabe? Charles novinho era muito chato jogando. Prendia a bola, tinha o tempo certo de jogo. Sem falar na nossa velocidade extraordinária no momento dos contra-ataques”.

Em opinião que coincide com a dos colegas, o diretor-geral da Sudesb destaca que o Bahia
cresceu dentro da competição. “Foi ganhando maturidade e a confiança necessária pra poder
chegar aonde chegou. E o time jogava com alegria. A gente saía, ia comer um pastel, ia tomar
uma cerveja, as mulheres se reuniam com as namoradas. Então, não era um time de estrelas.
Pelo contrário. Era um time modesto, em que cada jogador tinha um sonho”, conclui.

Parceiro de meio de campo, Paulo Rodrigues endossa:“Chegamos a um ponto que as preleções
eram de cinco minutos nas finais. A gente perguntava era sobre a marcação. Se ia marcar
em cima ou esperar o adversário. O resto, a gente já sabia. Ele (Evaristo) conseguiu passar
tudo. Iam saindo as jogadas com a maior naturalidade”.

Zé Carlos, enfim, ressalta a importância da identificação dos atletas – em sua maioria de baianos – com o tricolor. “Eu fui criado pelo Bahia, subi da base e fui campeão. Era meu único clube até então. E isso faz você se entregar mais”, acredita.

O torcedor torce o nariz sobre eventuais “ajudas espirituais” ao tricolor, mas o lateral Paulo Robson conta um episódio engraçado, que mostra que elas realmente faziam parte do contexto. “Estávamos, eu e Paulo Rodrigues no quarto, aí bateram na porta. Disseram que a gente tinha que fechar a corrente. Eu vi um cara de quase dois metros de altura. E ele disse que tinha que dar uma surra de galo na gente! A gente não queria porque não sabia dessas coisas. Depois, o pessoal pressionou porque faltava só a gente pra fechar a corrente e eu entrei em um lugar com água, e o cara começou a me bater com o galo. Ninguém acredita, bicho, que eu tomei surra de galo aí na Bahia”, entrega, às gargalhadas.

Matéria publicada originalmente no jornal A Tarde do dia 15/02/2009

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