Quando
ele partia com a bola dominada, era difícil alguém desarmar. Arrancadas,
inteligência, pensamentos rápidos, boa finalização, faziam parte dos atributos
de um dos grandes heróis da minha infância, que chegou ao Bahia há 30 anos,
para honrar a camisa 10. Depois do meia-atacante Luís Henrique, nenhum outro
jogador foi convocado para a Seleção Brasileira principal enquanto atuava pelo
clube.
Há
30 anos, também, o Bahia fazia grande campanha no Campeonato Brasileiro. O time
chegou à semifinal, contando com esse craque discreto como um dos grandes
destaques. Ele teve atuações inesquecíveis, como na goleada contra o
Fluminense, por 4 a 1, nas Laranjeiras, quando deu um drible mágico antes de
sofrer um pênalti, e ainda fez um golaço.
O
time de 1990 era muito forte e terminou a competição em quarto lugar, com 26
pontos em 23 jogos, perdendo apenas cinco vezes. Foram oito triunfos e 10
empates. Na época, uma equipe computava apenas dois pontos a cada partida
vencida, por isso a pontuação geral pode parecer baixa, mas o Corinthians,
campeão e time que mais pontuou na competição, fez 32, apenas seis pontos à
frente, com dois jogos a mais. É uma das melhores equipes do Bahia que vi
jogar.
Além
de Luís Henrique, o time tinha outros grandes expoentes. Contava com quatro
remanescentes da equipe titular do título brasileiro de 1988: os meio-campistas
Gil Sergipano e Paulo Rodrigues e os atacantes Marquinhos e Charles, grande
estrela do elenco, com status de jogador de Seleção Brasileira. Ele, inclusive,
confirmou o papel de protagonista, garantindo a artilharia da competição, com
11 gols marcados. Foram 44% dos tentos marcados pelo segundo melhor ataque do
torneio.
Naldinho,
que já havia jogado com Luís Henrique na Catuense, também fez um campeonato impressionante,
desmontando defesas com muita velocidade e dribles incríveis. Além de Charles,
o time contava com outro representante da base, o lateral Maílson, um dos
melhores da posição na história do clube.
A
dupla de zaga titular também se destacou e teve grande responsabilidade no fato
de o clube ter garantido a terceira melhor defesa da competição em média de
gols sofridos. Jorginho, irmão de Júnior Baiano, na jogada aérea, e Wagner
Basílio, nas cobranças de falta, também colaboravam ofensivamente.
O
time-base, comandado por Candinho, era formado por: Chico, Maílson, Jorginho,
Wagner Basílio e Gléber; Gil, Paulo Rodrigues e Luís Henrique; Naldinho,
Marquinhos e Charles. O volante Delacir foi titular durante metade da campanha.
O atacante Hélio começou jogando apenas uma vez, mas saiu do banco outras 11
vezes. O goleiro Ricardo Dantas, o lateral Gilvan e os meio-campistas Marcelo
Jorge e Renatinho foram alguns dos outros nomes com participação na competição.
No
primeiro jogo da semifinal, um jogão, o Tricolor aumentou a esperança de que o
terceiro título brasileiro poderia estar a caminho, quando, logo no início,
Wagner Basílio cobrou bem uma falta e abriu o placar no Pacaembu, com 40 mil presentes,
mas um gol contra de Paulo Rodrigues e outro do grande herói do título
corintiano, Neto, fizeram com que o Corinthians levasse a vantagem do empate
para a Fonte.
A
torcida encheu a Fonte Nova, com quase 65 mil pagantes, para o jogo de volta,
mas o Corinthians segurou o empate sem gols e acabou com o sonho tricolor.
Ainda assim, ficam grandes memórias daquele ano, como os emocionantes confrontos
das quartas-de-final, quando, depois de um empate em 1 a 1 fora de casa, o
Bahia passou pelo time paulista em um emocionante triunfo, por 3 a 2.
publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 09.04.2020
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