terça-feira, 23 de julho de 2013

"Por minha vontade, eu fico até encerrar a minha carreira no Bahia"




Leandro Silva - Como foi que você recebeu a notícia do afastamento do elenco principal?
Adriano Michael Jackson -
Eu joguei a partida toda contra a Luverdense (pelo jogo de volta da Copa do Brasil, numa quarta-feira), machucado, com muita dor, e continuei em campo, com muito sacrifício. Então, na quinta-feira, eu fui para o clube me tratar, continuei me tratando na fisioterapia até que na sexta-feira eu fui me concentrar para o Ba-Vi, mas vi que meu nome não estava na lista. Fui perguntar o motivo e Anderson Barros me falou para que eu ficasse tranquilo que eu poderia continuar o tratamento. E eu disse: ´mas eu quero jogar´. E ele me disse que eu podia ficar tranquilo, que era melhor que eu descansasse e continuasse o tratamento porque o jogo do domingo seguinte era mais importante porque era a estreia no Brasileiro contra o Criciúma.

Eu queria jogar, até porque tinha dado declarações de que ainda dava para reverter (o Bahia precisaria vencer por 5 gols de diferença para ser campeão estadual) e queria tentar, mas tudo bem, voltei para a fisioterapia. Depois, durante a semana, eu estava na fisioterapia, junto com Zé Roberto e outros jogadores, quando Anderson (Barros) me chamou e me disse que estavam afastando alguns atletas e eu era um deles. Não me disse o motivo, só falou que tomaram essa decisão. Fiquei sem reação, mas disse: ´tranquilo´. Aceitei, estou aceitando até hoje e ainda não sei o que levou a essa decisão.

Leandro Silva - Você acha que a ansiedade para marcar o primeiro gol nesse retorno prejudicou seu rendimento nas primeiras partidas?
Adriano Michael Jackson -
Atrapalhou um pouquinho, mas não foi só isso. Teve vários motivos. Quando cheguei, o Bahia já tinha sido eliminado no Campeonato do Nordeste, o clima já não era bom. E, em qualquer time que você chega, é preciso um tempo de adaptação. Em 2010, por exemplo, eu comecei jogando no time que jogava a Copa do Nordeste, fui me destacando, depois Renato Gaúcho passou a me colocar durante os jogos, só depois virei titular e me destaquei. Tive um tempo para ir me acostumando. Agora, não.

E ainda precisava me readaptar ao futebol brasileiro porque na China é bem diferente. A posição que eu jogava em 2010 também era outra. Eu ficava mais próximo do centroavante (Jael), então a bola que sobrava na área, que não era dele, era minha. Sobrava mais bola em condição de finalizar. Agora, eu estava jogando muito na beirada de campo, tendo que marcar lateral e, às vezes, volante. Jogando longe da área é preciso driblar muito mais gente para poder chegar em boa condição para fazer o gol ou contar com a sorte de acertar de longe de forma mais precisa. Na área, chutou é gol. Eu nem conseguia chutar muito ao gol. Se chutava três vezes em um jogo era muito. O gol não estava saindo, mas eu não abaixava a cabeça (o único gol foi na primeira partida da decisão do Bahia, contra o Vitória). Sabia que estava fazendo o que o treinador estava pedindo e tentando ajudar o clube. E confiava que iria brilhar igual a como foi em 2010. Era mais questão de adaptação mesmo. No começo é sempre assim. É bom que seja difícil no início para melhorar depois.

Leandro Silva - Mesmo afastado, você assiste aos jogos do Bahia?
Adriano Michael Jackson -
Quando vejo o Bahia jogar dá uma certa tristeza porque alguns dias atrás eu estava ali, em campo, e agora, não. Eu até tento não olhar. Escuto mais do que assisto, mas meu filho fica vendo na TV e vem comentar e eu acabo vendo. E aí, quando tem gol, não tem jeito. Eu vibro mesmo porque eu sou torcedor independente do que acontece comigo. Vibro pelo Bahia, vibro pelos meus amigos que estão em campo e pelos torcedores que me tratam tão bem. Mesmo estando retado com algumas jogadas que não dão certo, a gente vibra de qualquer maneira.

Leandro Silva - E acompanhava mesmo na China?
Adriano Michael Jackson -
Claro. Eu fui para o Palmeiras depois do acesso, mas não foi por minha vontade. Foi pela vontade do Fluminense (foi envolvido na troca pelo volante Edinho). Mesmo lá em São Paulo e até na China eu sempre assistia e tinha vontade de voltar para o Bahia. Na China, eu assistia a todos os jogos que eu podia. Quando não dava para ver ao vivo, procurava na internet e a minha vontade de ver o Tricolor nunca vai mudar. Sou muito Bahia.

Leandro Silva - Você tem esperança de voltar ainda esse ano a jogar com a camisa do Bahia?
Adriano Michael Jackson -
Com certeza, eu tenho muita esperança ainda de isso acontecer. Pela minha vontade, da família, dos torcedores que falam comigo, dos colegas, eu já deveria estar no grupo. Na semana passada, eu estava no Clube com o meu empresário, fui chamado e ouvi que não tinha mais chances de voltar, mas todo dia, eu vou treinar. Depois de ouvir isso, eu poderia desistir de ir treinar, mas ainda vou todos os dias, tranquilo, porque sei que a minha hora vai chegar.

Em 2010, também, eu não estava no time principal, trabalhei duro, na Copa do Nordeste, e a hora chegou quando eu estava preparado. Não adianta nada ser reintegrado e não estar preparado quando a chance aparecer para fazer valer a pena toda a espera. Toda hora algum dos jogadores afastados rescinde, mas a minha vontade não é sair do Bahia. Mesmo do jeito que eu estou, sem jogar, só treinando, eu estou no Clube que eu torço e tenho o maior orgulho de poder dizer que sou do Bahia, que treino todos os dias e sou bem visto e querido no Fazendão. Eu espero que dê tudo certo.

Leandro Silva - E você se arrepende de ter voltado ao Bahia?
Adriano Michael Jackson -
Não me arrependo, não. De jeito nenhum. O que me atrapalha é essa situação que está acontecendo de não fazer parte do grupo, cheguei com o cartaz de artilheiro, que ajuda o grupo, ajuda o time. Larguei algumas coisas na China, abri mão de propostas de outros clubes para jogar no Bahia, mas fiz tudo isso pelo meu amor pelo Clube. E a gente não tem como se arrepender do que a gente faz por amor.

Leandro Silva - Seu melhor momento na carreira coincidiu com o melhor momento da carreira de outro jogador revelado pelo clube e que passa por momentos difíceis, afastado dos gramados por lesões: Ávine. Você tem contato com ele?
Adriano Michael Jackson -
Eu converso e gosto muito dele. Alguns amigos até me perguntam se ele vai voltar e eu sempre dou boas notícias para eles. Eu sempre digo: 'se ele não fosse voltar, já teria desistido. Dá pra ver na cara dele. É muita força de vontade'. Eu sempre rezo por ele. O carinho que ele tem pelo Clube é o mesmo que eu tenho e ele não vai desistir. Deus vai abençoar e ele não vai ter mais essas lesões e vai voltar a jogar como sempre jogou.

Leandro Silva - E com os outros jogadores? Como é a relação?
Adriano Michael Jackson -
Falo com todo mundo. Essa semana mesmo, eles estavam treinando no mesmo turno que eu e eu brinco com eles todos. Quando vejo no treino, de longe, dá uma certa tristeza, mas o carinho deles é muito grande e acaba me deixando feliz. Tenho muito orgulho por me sentir respeitado e querido pelos funcionários também. Se perguntar se tem alguém que não goste de mim no Fazendão, acho difícil que apareça alguém. Os mais próximos são Obina, Talisca, Hélder, Diones, mas é até difícil dizer só alguns.

Leandro Silva - Você já saiu do Bahia duas vezes. Como foram as outras experiências fora do Fazendão?
Adriano Michael Jackson -
Isso. Eu saí, na primeira vez, no finalzinho de 2008 somente porque não tinha oportunidade no profissional. Já tinha 20 anos e não tinha espaço. Então eu pedi pra ir embora, abri mão de três meses de salário e fui fazer um teste em um time do Ceará. Acabei sendo mandado embora. Voltei pra Salvador e falei pra meu tio e meus amigos que eu não queria mais ser jogador de bola, mas meu tio disse pra eu não desistir.

Aí fui fazer teste no Galícia, fiz dois gols em um treino e o Galícia quis acertar comigo. Eles estavam fazendo uma parceria com o Vitória, pegando alguns jogadores para reforçar o time e eu já estava com tudo certo, mas meu tio falou que eu deveria ir para um time do Rio, que eu nem precisaria fazer teste. Eu nem queria ir. Queria ficar aqui mesmo. Chegando lá, não deu certo com esse time, mas surgiu a oportunidade de fazer teste no América. Eu já ia ser mandado embora porque era pequeno e magrinho, até me tiraram do ataque e colocaram no meio de campo. Aí fiz três gols em um amistoso, Romário estava assistindo e mandou que eu ficasse. Recebi muito apoio dele, fui artilheiro. Na despedida dele, no América, ele entrou no meu lugar.

Subimos em 2009 e fomos bem no Carioca de 2010. Até que Cuca era o treinador do Fluminense e pediu que me contratassem, Romário que me levou até o clube, mas Muricy chegou, substituindo Cuca, e eu fiquei só treinando. Até que Renato Gaúcho pediu a minha contratação para o Bahia. E agradeço muito por ele ter me trazido, dado a oportunidade de voltar para o lugar que eu nunca queria ter saído.

Depois ainda tive uma experiência importante no Palmeiras, com um treinador como Felipão, campeão mundial. Fiquei muito orgulhoso por trabalhar com ele. Foi muito orgulho de ter sido aceito em um clube treinado por um cara como ele. Alguma coisa boa ele viu em mim e eu torço muito por ele na Seleção. E na China foi tranquilo. O treinador era português, o futebol era bom de jogar. E foi uma experiência muito importante de jogar fora do Brasil.

Leandro Silva - Dá pra perceber que você já passou por muitas dificuldades durante a sua carreira. De onde você tira força para continuar?
Adriano Michael Jackson -
Eu tiro essa força toda de Deus e do apoio da minha família. Quando eu tava no Rio, fazendo teste, um primo faleceu, aí me desanimei ainda mais, mas a família continuou apoiando. E hoje, eu tiro muita força dos torcedores, das lembranças. Todas as vezes que eu entro na internet, vejo meus vídeos jogando pelo Bahia. Fico lembrando, não acredito no que o que está acontecendo comigo. Fico emocionado por me ver fazendo aquilo pelo Clube, aquela subida para a Série A foi muito bonita. Fico muito alegre quando vejo os momentos de 2010. É uma mistura de saudade, emoção. Fico observando.É muito bom poder ver esses momentos maravilhosos. 
 
E, mesmo não jogando, ou fazendo parte do grupo, fico muito feliz por ainda ter contrato com o Clube. Independente de não jogar, por minha vontade, eu fico até encerrar a minha carreira no Bahia. Nunca quero sair do Tricolor.

Eu acredito muito que vou voltar ao grupo, rezo muito. Sempre quando eu vou dormir, eu imagino que no outro dia, vou receber uma ligação do Bahia, dizendo que o treino vai ser tal hora e que eu vou estar no grupo. Sonho muito em ver essa ligação no meu celular. No momento em que eu vou para o Fazendão, também, durante o caminho todo eu vou pensando, que quando eu chegar lá vão me dizer que eu vou treinar junto com o restante do pessoal. Espero que não demore muito para que isso se realize. Minha vontade é de voltar rápido. 'Tamo junto'.

Nenhum comentário: