sábado, 28 de março de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 15 - 60 anos de uma estrela - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.03.2020


Todo torcedor tricolor sabe que “59 é nosso”. E tal façanha, que tanto nos orgulha, completa 60 anos no próximo domingo. Foi no dia 29 de março de 1960 que um grupo de guerreiros inesquecíveis colocou de vez seus nomes na história do Bahia e do futebol do País, com a conquista do primeiro Campeonato Brasileiro. 

Curioso é que, assim como o Brasileiro de 1988 foi conquistado pelo Bahia no ano seguinte, o mesmo aconteceu com a Taça Brasil de 1959, finalizada em 1960. Juntos, são os títulos que mais orgulham todo torcedor do Esquadrão, que ostenta em suas camisas, acima do distintivo, as duas estrelas alusivas às conquistas nacionais.

É bem verdade que as duas estrelas apareceram juntas em 1989, já que, antes disso, o Bahia não usava nenhuma em seus uniformes ou distintivo avulso. No entanto, a primeira nasceu, de fato, em 1960 e, desde então, já estava guardada no coração de cada tricolor, esperando a segunda estrela, sua companheira, para brilhar. 

Comandado pelo treinador Geninho até a segunda partida da decisão, o Tricolor chegou ao título com o argentino Carlos Volante no comando, na terceira partida da final. O time da decisão foi: Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nenzinho; Flávio e Mário; Marito, Alencar, Léo Briglia e Biriba. Outros jogadores atuaram durante a competição como Leone, Florisvaldo, Bombeiro, Bacamarte, Ari, Carioca e Jair.    

Não bastasse o fato de ser campeão brasileiro, e de ser o primeiro, o torcedor tem um adicional que engrandece ainda mais a conquista: o adversário da decisão. O Santos, de Pelé, melhor jogador de futebol de todos os tempos para a grande maioria das pessoas que o viram jogar. O rei do futebol tinha conquistado a primeira de suas três Copas do Mundo menos de dois anos antes, na Suécia, em 1958.

E aquele Santos não contava “apenas” com Pelé. Outros três campeões mundiais de 1958 o defendiam: Mauro, Zito e Pepe. Além de jogadores lendários como Dorval e Coutinho, um dos maiores parceiros de Pelé na história. O nível do adversário engrandece a conquista tricolor, mas é preciso valorizar ainda mais os atributos do Bahia, o melhor entre os 16 participantes da competição, que foi disputada por campeões estaduais. Foram nove triunfos, dois empates e três derrotas nas 14 partidas realizadas. Teve ainda o artilheiro da competição, Léo, com oito gols.

O conjunto era muito forte, mas, para quem viu jogar, também havia espaço para outros destaques individuais, como Marito, ponta franzino e driblador, que entortava os marcadores, ou Alencar e Biriba (9º e 10º maiores artilheiros do clube, com 116 e 113 gols, respectivamente). Lembro que, quando estava escrevendo o meu livro sobre o título de 1988, entrevistei o cronista desportivo Chico Queiróz, que destacou as qualidades de outros jogadores como Nadinho, Henricão e Florisvaldo, mas apontou o meio-campista Mário como o mais talentoso.

Na época, em cada fase, poderiam ser dois ou três jogos. Se houvesse empate em pontos após as duas primeiras partidas, não importando o saldo de gols, seria necessário um jogo de desempate. O Tricolor superou cinco fases eliminatórias para chegar ao título, passando por CSA, Ceará, Sport e Vasco, antes de encarar o Santos. 

Na decisão, o Bahia começou perdendo o primeiro jogo, na Vila Belmiro, com um gol de Pelé, mas virou e terminou o jogo com um triunfo, por 3 a 2, com dois gols de Alencar e um de Biriba. No segundo, um empate, na Fonte, garantiria o título, mas o Tricolor perdeu, por 2 a 0, com gols de Pelé e Coutinho. Com isso, foi realizada uma terceira partida, no Maracanã. E o Esquadrão venceu, de virada, por 3 a 1, com gols de Vicente, Léo e Alencar. E, desde então, “59 é nosso!”.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.03.2020

sábado, 14 de março de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 13 - Olhos de criança - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 12.03.2020


Quais as suas primeiras recordações relacionadas ao futebol? Lembra quando teve contato com um jogador do Bahia pela primeira vez? Estava assistindo a um vídeo do canal oficial do clube, sobre uma ação na loja da Fonte Nova, que contou com a presença dos meio-campistas Flávio e Ramon, e as reações emocionadas de torcedores ao ter esse contato direto me chamaram a atenção e me fizeram refletir sobre o assunto. Outro vídeo também compartilhado pelo clube evidenciava a emoção de uma criança, sobrinha de Uéslei Pitbull, em sua primeira visita à Fonte.  

Tenho assistido de perto aos primeiros contatos do meu sobrinho e afilhado Bernardo, de apenas dois anos, com o futebol. A empolgação dele ao ver alguém vestindo a camisa do Bahia ou ao ouvir o nosso hino é inexplicável e, logicamente, emociona. Encontramos, por exemplo, durante o fim de semana, por acaso, dois jogadores do Bahia: Gregore e Ernando. Ambos interagiram com ele de maneira muito carinhosa e ele ficou bastante empolgado. 

Espero que todos os jogadores que vestem a camisa do Bahia tenham a noção exata do quanto podem ser importantes para tanta gente que eles nunca viram pessoalmente, mas que, ainda assim, eles conseguem fazer parte da vida. Têm o poder de mudar o humor, amenizar sofrimentos, aliviar a pressão do cotidiano, graças às alegrias proporcionadas dentro de campo. 

Em tempos de redes sociais e caixas de comentários de sites de notícias tomadas por um clima bélico, faz bem perceber que ainda há muita admiração e respeito nos contatos da “vida real”. Que o Bahia prossiga com ações que aproximem os jogadores dos seus torcedores e com vídeos que humanizem seus atletas. 

Até hoje consigo equilibrar, até mesmo por obrigação profissional, a capacidade de realizar análises racionais de jogos e de diversas situações relacionadas ao futebol, e o prazer que tenho desde criança de viver o lado lúdico do esporte de forma intensa. Não pretendo jamais perder esse poder de enxergar o futebol com os olhos de criança.

O primeiro jogador profissional que entrevistei foi o meio-campista Rafael Bastos, hoje na Jacuipense. Era o início da minha carreira e da dele também. Guardo até hoje na memória o longo papo que tivemos no Fazendão. Essa eterna criança, mesmo já tendo entrevistado tantos outros atletas, ainda se emociona até hoje ao ter contato com jogadores que admira. 

Nordeste –
No sábado, o Bahia terá a chance de garantir a vaga na próxima fase da Copa do Nordeste, com uma rodada de antecedência. Um triunfo, fora de casa, contra o América de Natal é o suficiente, independente de qualquer resultado dos concorrentes do grupo A. Se o Botafogo da Paraíba não vencer o Santa Cruz no jogo de hoje, inclusive, o Tricolor terá a oportunidade de assumir a liderança, vencendo o América, em partida que acontecerá com portões fechados.

A campanha é satisfatória e o time segue firme para buscar o título. Continua, entretanto, precisando repetir no regional, o nível das atuações contra o Nacional, do Paraguai, pela Sul-Americana, as melhores do ano até o momento. Mesmo sem um jogo tão vistoso, o triunfo contra o Confiança não deve ser minimizado. O time sergipano, mesmo com a derrota, continua detentor da melhor campanha geral da competição e demonstrou organização. Ainda assim, o Bahia teve chances de fazer mais e não correu muitos riscos. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 12.03.2020

sexta-feira, 6 de março de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 12 - Dose dupla - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 05.03.2020


O clima das tradicionais rodadas duplas que marcaram a história da Fonte Nova poderá ser revivido no próximo sábado, mas com um diferencial: serão duas partidas oficiais entre profissionais, envolvendo o Bahia. A situação acontece em um momento em que os torcedores têm motivos para festejar os dois grupos: o principal e o de transição, que vêm de triunfos marcantes. 

A equipe principal não atua desde quando venceu o Nacional, no Paraguai, com autoridade, por 3 a 1, garantindo vaga na próxima fase da Sul-Americana. O primeiro triunfo em uma partida oficial fora do País, algo que não aconteceu nem mesmo quando o clube chegou entre os oito melhores da Libertadores e da própria Sul-Americana, dá moral e atesta a evolução do desempenho na temporada.

Na Copa do Nordeste, o Bahia chegou a figurar fora da zona de classificação para a próxima fase, mas agora está entre os classificados, com oito pontos e tem a chance de assumir a liderança do Grupo A. Isso acontecerá somente se vencer a equipe detentora da melhor campanha da competição até o momento, o Confiança, líder do Grupo B, com 13, e se o Botafogo da Paraíba não vencer o Imperatriz.

Após momento de turbulência, com as duas derrotas do ano em um intervalo de três dias, o time evoluiu e começa a justificar a expectativa criada durante a formação do elenco. Precisa repetir na Copa do Nordeste o nível das duas melhores atuações da temporada, ambas contra o Nacional, pela Sul-Americana. 

Quebrar a invencibilidade do Confiança em 2020 pode ser mais um atestado da evolução. Já que o time sergipano parece ter iniciado o ano embalado pelo acesso para a Série B, e, além de liderar a chave no Nordeste, ter se classificado para o quadrangular final do estadual com a primeira colocação. 

No outro jogo de sábado, o adversário será o Doce Mel, penúltimo colocado do Baiano. Líder e invicto, o Bahia pode se classificar com duas rodadas de antecedência a depender dos outros resultados. O primeiro triunfo do ano em Ba-Vis, no domingo passado, teve importância fundamental para o projeto do grupo de transição. 

Reforço a minha confiança na qualidade desse time e do seu comando técnico, ampliada pelo triunfo no Ba-Vi, mesmo mantendo a opinião de que todos os clássicos deveriam ser disputados com os elencos principais dos clubes, por uma ideia de valorização do clássico e do estadual. O jogo, porém, teve os ingredientes marcantes dos grandes Ba-Vis, com direito a equilíbrio, rivalidade, raça, provocação frustrada, golaço de falta, gol no lance final do jogo, e, o principal, triunfo do Bahia. 

Os jogadores valorizaram a oportunidade e souberam jogar o clássico, mesmo com atuações mutantes durante os noventa minutos. Pela constância, devo fazer justiça ao goleiro Fernando Castro, que justificou a confiança depositada pelo treinador Dado Cavalcanti, mesmo depois das boas atuações de Mateus Claus. Foi uma partida segura com, pelo menos, duas ótimas defesas, e mais uma saída do gol em que forçou o erro do adversário.

Na coluna passada, chamei atenção para o fato de que o Bahia tem uma artilharia comunitária no estadual. Ramon fez dois dos 10 gols marcados na competição. Oito jogadores fizeram os outros oitos gols. No Ba-Vi, Anderson Jesus, de cabeça, e Arthur Rezende, de falta, ampliaram a distribuição, e se juntaram a Gustavo, Saldanha, Caíque, Régis Tosatti, Ignácio e Lepo, autores dos outros seis. Dos titulares de linha mais frequentes, falta apenas Mayk, Edson e Alesson balançarem a rede.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 05.03.2020