sábado, 28 de dezembro de 2019

Caldeirão de Aço - Semana 02 - Nascido e criado na Fonte - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.12.2020


Não vá à Arena. Vá à Fonte. Essa não é uma campanha contra naming rights ou qualquer coisa parecida, até porque dificilmente você vê alguém dizendo que vai à Arena Itaipava Fonte Nova, ou que já foi ao estádio Octávio Mangabeira. Essas nomenclaturas servem mais como recursos que nós, jornalistas, usamos por diversas vezes apenas para não repetir uma palavra em um texto. Desculpe-me, então, por fazer transbordar de Fonte essa escrita. 

A minha campanha solitária, se é que se pode chamar assim, tem a ver com o resgate de uma tradição – sim, quem me conhece sabe o quanto sou tradicionalista. Nada contra quem prefere chamar a casa do Bahia de Arena. Imagino que seja até uma tentativa de agregar modernidade – corro longe -, ou mesmo para diferenciar do antigo estádio. Para esses fins, de forma pontual, sugiro chamar de Velha Fonte, com todo o carinho e respeito que ela merece. 

No entanto, insisto em pensar: há necessidade de separar? O sentimento envolvido deve ser o mesmo. É a casa do Esquadrão. E é um dever que o Bahia, como instituição, vem tentando cumprir: fazer o torcedor, não importando a sua condição, sentir-se em casa na Fonte. Alguns planos de sócios, inclusive, foram lançados com esse objetivo, como o ‘Bermuda e camiseta’ e o ‘Bahia da Massa’.

Deve-se dizer também que Arena é um termo genérico utilizado para identificar tantas e tantas praças esportivas pelo mundo. E, no Brasil, o termo pegou mais para identificar o mando de campo do Athletico Paranaense. Já a Fonte é única, em cada um dos seus aspectos, a começar pela arquitetura que impressiona, seja no projeto original ou no atual. E que tem vida quando repleta de azul, vermelho e branco.

Há de se admitir também que Arena é um termo muito frio, enquanto Fonte é quente, como uma tarde de domingo na ... Fonte Nova, claro. Sem contar a identidade do estádio, que é parte da cultura dos baianos. Há até uma camisa lançada pelo Bahia que capta um pouco da essência da relação que o torcedor tricolor tem com a sua casa, através da expressão: “nascido e criado na Fonte”.

Por tudo isso, espero que o Bahia jogue na Fonte no próximo ano, como a sua tradição manda. Fazendo com que os adversários tenham medo. Em 2019, durante um tempo, foi assim. O respeito estava evidente em qualquer que fosse o time a cruzar o caminho do Esquadrão na Fonte. Sequências de bons resultados criaram um ambiente favorável, que deve ser resgatado em 2020. Que o torcedor mantenha sempre clara em mente a diferença entre torcer e comemorar. E que é importante que empurre o time durante o jogo para que possa comemorar ao final.  

O Tricolor chegou a enfileirar quatro triunfos nos quatro primeiros jogos como mandante no Brasileiro, contra Corinthians, Avaí, Fluminense e Grêmio (este em Pituaço), e fechou o primeiro turno, vencendo seis jogos e perdendo apenas um dos dez jogos. A participação incluiu o triunfo de 3 a 0 contra o futuro campeão brasileiro e da Libertadores, Flamengo, já com o treinador português Jorge Jesus, em partida que exemplifica bem o poder do Esquadrão em sua casa, ao lado da torcida. 

No segundo turno, entretanto, apenas um triunfo em casa, contra o Botafogo. Ao todo, no ano, em 34 jogos, o Tricolor foi vencedor em 15 partidas, tendo saído de campo com o empate outras 11 vezes. Que o desempenho anterior seja resgatado e mantido até o final da temporada em 2020. Se isso acontecer e o bom desempenho fora de casa que foi obtido em 2019 for mantido, o Bahia pode dar um salto importante nas competições que estarão em disputa. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.12.2020

sábado, 21 de dezembro de 2019

Caldeirão de Aço - Semana 01 - O frio na barriga da estreia - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 19.12.2020


Com o término de uma temporada, independentemente da avaliação que se faça sobre a atual, as atenções já se voltam para a próxima. O Bahia terá caras novas em 2020, como o meio-campista Daniel, ex-Fluminense, único contratado até o momento para o elenco principal, comandado por Roger Machado. Outros, entretanto, chegaram para reforçar a equipe de transição, sob o comando de Dado Cavalcanti, e buscarão vaga no plantel, com o passar do tempo. Junto com Daniel, e os outros futuros anunciados, também lutarão por um lugar especial no coração do torcedor. 

Na cabeça desses jogadores, a empolgação com o novo desafio facilmente deverá estar se fundindo com a apreensão causada por ele. É exatamente essa mistura de sentimentos que toma conta de mim nesse momento em que escrevo o primeiro texto à frente desse respeitado espaço. O chamado frio na barriga. Contudo, ao contrário de muitos dos novos jogadores do Esquadrão, que provavelmente tiveram ou terão um contato mais profundo com o clube a partir do interesse e contato inicial para uma possível chegada, o Bahia é mais antigo em minha vida do que as minhas próprias memórias.   

Assim como tantos outros exemplos de vida que procuro seguir, - junto com aqueles passados por minha mãe, Jumari -, o amor pelo Bahia foi transmitido naturalmente por meu pai, Everaldo, meu grande companheiro de arquibancada, seja na Fonte ou em Pituaço. Ainda bem que meus irmãos, Lucas e Renato, também seguiram a tradição, que vai sendo guardada por meu afilhado Bernardo, neto dele, de dois anos, que já vibra ao ver as cores do Esquadrão.

Para dar certo nesse novo desafio, um conselho aos novos contratados é conhecer a fundo a história da nova casa. Perceber a grandeza e respeitar o esforço e o talento de quem veio antes. Assim, como se faz necessário valorizar o trabalho monstro de Samuel Lima à frente do seu ´Empurrão Tricolor´. Samuel é um grande jornalista, que respira o Bahia, e pelo qual sempre me senti representado aqui.

Também é preciso entender a grandeza e o comportamento da torcida do Bahia. Necessário se faz ter a exata noção de que será impossível agradar a todos. Críticas certamente virão, mas se o torcedor perceber entrega, respeito e comprometimento com o clube, ele se tornará um grande aliado. Será o estímulo necessário para que o trabalho se torne um prazer e que haja uma genuína satisfação em dar o melhor dentro das quatro linhas, seja em campo, ou no interior dessa coluna de tão respeitado jornal.

Quem não estará estreando em 2020 é o treinador Roger Machado que teve emoções intensas logo em sua primeira partida na área técnica do clube, com direito a gol no minuto final, decidindo classificação na Copa do Brasil, contra o CRB. Ainda que o time tenha caído de rendimento no segundo turno do Brasileiro, o saldo geral do trabalho do ex-lateral-esquerdo é positivo e a sua continuidade no comando também pode ser avaliada como importante. Agora, terá a oportunidade de participar mais efetivamente da montagem do elenco para a temporada.  

Em 10 anos, Roger será apenas o quarto treinador mantido após um final de temporada, depois de Enderson Moreira (2018), Guto Ferreira (2016) e Jorginho (2012). Desafio maior será terminar 2020 como o comandante. Algo que não acontece desde que Vadão passou o ano inteiro de 2004 à frente do clube, depois de chegar naquele mesmo ano. Roger poderá igualar o feito do mestre Evaristo de Macedo, único treinador no século a completar uma temporada inteira depois de ser mantido ao final da anterior, em 2001. Que o desempenho e os resultados ajudem.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 19.12.2020

sábado, 14 de dezembro de 2019

O camisa 10 é símbolo merecido das conquistas do Flamengo em 2019


Inspirado por uma postagem do meu amigo Danilo Brito, grande publicitário e flamenguista, resolvi escrever sobre um personagem fundamental nas recentes conquistas do Flamengo de 2019, evidenciadas na foto que ganhou grande destaque: Carioca, Brasileiro e Libertadores. O meio-campista Diego Ribas. A postagem de Danilo foi um dos melhores e mais verdadeiros textos relacionados a futebol que tive a sorte de ler em muito tempo. Meu primeiro pensamento foi de que não teria nada a acrescentar, mas ouso reformular minha ideia inicial para ´não tenho nada a retirar´.

Reproduzo o texto da postagem inicial: “Tenho muito respeito por esse cara. No atual elenco do Flamengo ele é meu ídolo. Roeu o osso. Aguentou muita crítica quando o time ainda era desestruturado e ele que levava toda porrada. Recusou proposta milionária pra jogar nos EUA, e seguiu no Mengão. Agora, nada mais do que justo esses três troféus. Já tem o nome marcado na história do Flamengo. Valeu perseverar. DEUS É BOM TODA HORA, @diegoribas10”.

As imagens da chegada de Diego ao Flamengo, no dia 20 de julho de 2016, impressionaram. Multidão, euforia, carros sendo pisoteados e, acima de tudo, esperança. De lá para cá, chegou a ter conflitos com os torcedores, que pareciam descontar no antigo camisa 35, e atual camisa 10, as frustrações pela ausência de conquistas consideradas significativas no período, e em muito mais tempo.

A postura exemplar de Diego durante três anos e meio, defendendo, comissões técnicas, colegas de time, e o próprio clube, parecia irritar ainda mais os críticos, que talvez não fossem capazes de tamanha lealdade a um projeto, como Diego demonstrou ser durante todo esse período. A crueldade chegou ao ponto de que muitos, inclusive profissionais da imprensa, creditassem a melhora do Flamengo com Jorge Jesus à grave lesão sofrida pelo ex-santista - fratura de tornozelo, com lesão ligamentar -, que forçou a saída da equipe.

Com mercado e com a carreira pregressa que tinha, Diego poderia ter partido em diversos momentos durante esses três anos e meio, mas resolveu ficar e perseverar. Enfrentava as críticas, não com o embate, mas com resiliência.

Durante o período de recuperação, no mês de setembro, chegou a assistir a um jogo do Flamengo no Maracanã, contra o São Paulo, fantasiado de urubu, no meio da arquibancada, demonstrando genuína felicidade e muita empolgação, com a situação e com o time, mesmo estando impossibilitado de ajudar em campo.  

E o time realmente empolgava e enfileirava triunfos. A cada partida surgia um “melhor jogador disparado da equipe do Flamengo”. Bruno Henrique, Gabigol, Gérson e Arrascaeta, revezavam nesse posto. Éverton Ribeiro, talvez o que tenha a trajetória que mais se assemelhe à de Diego, e o único desses que não chegou em 2019, também era citado, com menor frequência. Os novos laterais 'europeus´, Filipe Luís e Rafinha, eram apontados como fundamentais acréscimos de qualidade. E é interessante ver um flamenguista como meu amigo Danilo Brito dizer que Diego é o maior ídolo dele no atual elenco.

Meu pensamento era exatamente de que Diego era a figura mais respeitada e simbólica desse time, mesmo que estivesse momentaneamente impossibilitado de ajudar em campo. E foi emblemático que ele fosse decisivo, como foi, no momento mais importante da história recente do clube. Em Lima, contra o River Plate, na final da Libertadores, Diego mudou o jogo e foi determinante para a virada conquistada pelo time carioca, no final da partida, que garantiu o tão sonhado troféu.

Não só pelo lançamento para o segundo gol de Gabigol, mas pela experiência e por fazer a bola rolar com mais qualidade naquele momento em que o River já demonstrava esgotamento. Ouso dizer que o time argentino teria comemorado o segundo título continental consecutivo caso o camisa 10 não tivesse entrado em campo.  

Um dos maiores méritos de Jorge Jesus no Flamengo foi conseguir fazer com que Gérson, Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, talvez os maiores expoentes técnicos disponíveis no momento, conseguissem jogar – e muito bem – juntos. Se todos eles vão continuar em 2020, junto com o treinador português, e se Diego vai conseguir um lugar no onze inicial, não se sabe. O certo é que Diego já marcou seu nome na rica história do Flamengo. Merecidamente.