sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 38 - Expectativa x realidade - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 03.09.2020

Assistir a qualquer jogo do Bahia é uma das atividades que mais me dá prazer, seja qual for a situação, mas ontem, logo no início, a sensação foi de pânico. De primeira, mais um gol foi entregue de bandeja para um adversário em 2020, mostrando que a noite não prometia coisa boa. Com uns 20 minutos, quando o placar já apontava 2 a 0 e a equipe seguia apática e assistindo aos cariocas jogarem como queriam, a preocupação não era nem mais com os três pontos, mas aparecia o receio em ver uma goleada sem precedentes em minha memória. Causava pavor a ideia de ter que assistir ao restante da partida.

Uma situação de exceção, afinal foram raras as vezes que me faltaram forças para seguir assistindo e acreditando. Fico imaginando que o sentimento dos flamenguistas e de quem gosta de jogos com muitos gols, foi totalmente oposto, afinal foram oito gols, com direito a alguns golaços. Eu mesmo já saí da antiga Fonte Nova com sentimentos conflitantes depois de um 7 a 4 a favor do Santos, de Diego e Robinho. Chateado, logicamente, com a derrota, mas com a satisfação de ter visto uma grande partida e de ter visto uma equipe do Esquadrão, muito inferior tecnicamente àquele Santos, ter uma postura totalmente diferente da que vi ontem.

No final, a postura da equipe e os erros sucessivos conseguiram incomodar mais do que o placar de 5 a 3. Sim, eu tive forças para seguir assistindo. E confesso que cheguei a acreditar em uma recuperação histórica ao final do primeiro tempo, quando o placar estava desfavorável em 3 a 2. No entanto, até eu, que sou chato com a ideia de que, em uma virada, é mais importante enaltecer os méritos de reverter uma situação ruim, do que as falhas anteriores, estava criando um compromisso comigo mesmo, de não deixar de criticar, nesse espaço, a péssima atuação defensiva da equipe até aquele momento, caso o placar fosse revertido na segunda etapa. No entanto, os outros dois gols do Flamengo trouxeram à tona novamente a sensação de pânico, só encerrada depois do golaço de Daniel e do apito final.

Já existia a expectativa para a saída de Roger Machado logo ao final do jogo e se tornou realidade com o anúncio oficial ainda na noite de ontem. No final do ano, já existia uma parte da torcida que era contrária à permanência do treinador em decorrência da queda de rendimento da equipe no segundo turno do Brasileiro passado, depois de uma ótima metade de competição. Durante a atual temporada, a eliminação na Copa do Brasil e a derrota no único Ba-Vi sob o comando do ex-lateral-esquerdo fizeram aumentar o número de insatisfeitos.

As boas apresentações a partir de então até a paralisação do futebol brasileiro deram uma acalmada nos ânimos, mas a queda de rendimento depois do retorno das atividades criou um clima ruim de insatisfação constante de boa parte da torcida.

Com a saída do principal alvo das críticas, proponho um tipo de reflexão. No início do ano, durante a construção do elenco para a temporada, qual era a sua expectativa para o ano de 2020? Era positiva? Negativa? De modo geral, imagino que a empolgação estava lá em cima. O Bahia passou a ser destacado por vários representantes da imprensa esportiva nacional, sem qualquer relação com o esporte baiano, como uma das equipes mais promissoras.

Como aquele clima foi dando espaço ao atual, aos poucos, durante o ano? Será possível que aquela expectativa do início de 2020 ainda possa se aproximar da realidade? Torço por isso.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 03.09.2020

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