sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 46 - Expandindo fronteiras - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 29.10.2020

Não tem tanto tempo assim que os confrontos internacionais ficavam restritos à imaginação ou às lembranças dos torcedores tricolores. Hoje à noite, o Bahia enfrenta o Melgar, do Peru, na retomada da Copa Sul-americana, e a relação com os jogos continentais já é outra. Há, inclusive, a esperança de que, assim como em 2018, o Bahia consiga chegar longe. E que, dessa vez, as arbitragens não interrompam o sonho do título internacional, como aconteceu nas quartas de final contra o Athlético.

Por falar nas lembranças além fronteira, na Libertadores de 1989, os campeões brasileiros de 1988 enfrentaram uma equipe peruana nas oitavas de final. Depois de um empate, no Peru, em 1 a 1, com o Universitário, com o gol marcado por Osmar, o Tricolor venceu o jogo de volta na Fonte, por 2 a 1 e se classificou para as quartas de final. Marquinhos e Charles fizeram os gols.

Essa lembrança é bem melhor do que a do único confronto com um adversário peruano em sete participações da própria Copa Sul-americana. Já que o Bahia saiu da competição nas oitavas de final em 2014 depois de disputa de pênaltis contra o Universidad César Vallejo.

A expectativa é que dessa vez o Esquadrão elimine os peruanos. É tanto tempo desde a primeira fase da atual edição, que é bom lembrar que o Bahia chegou a esse confronto depois de passar pelo Nacional, do Paraguai, com duas excelentes atuações e dois triunfos tranquilos, por 3 a 0, na Fonte Nova, e 3 a 1, fora. Se no Brasileiro Gilberto começou a fazer gols recentemente e está distante dos goleadores, na Sul-americana, o camisa 9 tricolor foi o artilheiro da primeira fase, com três gols.

O primeiro foi marcado na Fonte Nova, em partida que contou ainda com um gol de Élber e o golaço de Gregore, primeiro com a camisa tricolor. Os outros dois foram feitos no Paraguai, quando Élber também marcou novamente. Curioso é que o jogo de ida talvez tenha sido a melhor apresentação da equipe antes da paralisação e aconteceu no momento de maior pressão, vindo de derrotas que custaram vaga na Copa do Brasil e a longa invencibilidade em clássicos. A partir dali, o time manteve a consistência até a parada do futebol.

Dessa vez, o Bahia volta à competição depois de um triunfo muito importante contra o Atlético Mineiro e de um bom período para treinamento. Com um número maior de vagas disponíveis para inscrição, entraram na lista vários jogadores da base que ainda não tiveram chance na equipe principal.

Além dos que foram mantidos, também entraram alguns jogadores do antigo grupo de transição, que era comandado por Dado Cavalcanti, que teve o regresso ao clube anunciado nessa semana. Nem serve muito como parâmetro, porque a atuação no primeiro tempo da partida contra o Atlético não foi boa, mas foi interessante ver que o Bahia iniciou com três integrantes daquele elenco – Fessin, Ramón e Édson -, ainda contou com a entrada de Alesson. Curiosamente, Saldanha, o mais utilizado do antigo grupo, não atuou nessa ocasião. Cada um, em diferentes níveis, já demonstrou qualidades na atual temporada. Torço e considero importante que o clube consiga contratar definitivamente os emprestados Ramón e Fessin.

Antes do Baiano, apontei aqui Gustavo, já negociado, e Fessin, como aqueles de quem mais esperava no elenco. Com mais ritmo, Fessin vem correspondendo às minhas expectativas. Outras peças muito conhecidas também foram inscritas agora, como Rodriguinho, Elias, Marco Antônio, Eric Ramires e Anderson Martins.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 29.10.2020 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 45 - Poder de recuperação - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 22.10.2020

 Em meio a toda a irritação pela campanha longe da expectativa gerada para a temporada tricolor, por muitas vezes, não são devidamente enaltecidas algumas virtudes vistas por agora, como a capacidade de recuperação da equipe dentro das partidas, maior inclusive do que em outras temporadas mais consistentes e tranquilas.

Cinco dos 19 pontos ganhos até agora, por exemplo, foram conquistados depois de a equipe sofrer o primeiro gol. Além da primeira virada na competição, no 3 a 1 contra o Atlético Mineiro, na rodada passada, o Esquadrão buscou dois empates nessas situações adversas. Contra o Palmeiras, quando Marco Antônio fechou o placar, em 1 a 1, aos 49 minutos do segundo tempo. E frente ao Goiás, Fessin empatou também aos 49. A lista poderia ser ainda maior caso o gol de Gregore, contra o Sport, no mesmo minuto, não tivesse sido anulado.

Para efeito de comparação, a equipe do ano passado fez oito dos 49 pontos a partir dessas situações, com uma virada na estreia contra o Corinthians e cinco empates depois de sair atrás no placar.

O poder de recuperação atual não tem a ver apenas com não desistir por estar atrás do marcador, mas também por buscar um resultado melhor até o apito final. São sete pontos conquistados graças aos gols marcados a partir dos 30 minutos do segundo tempo. Dos cinco pontos já citados, quatro foram conquistados com gols nessa fase final das partidas. Apenas o primeiro ponto do triunfo contra o Atlético não entrou na conta, pois Daniel fez antes dos 30. O Bahia ainda alcançou outros dois pontos graças ao gol de Ernando, aos 48, no 2 a 1 contra o Bragantino, e mais um ponto com o gol de Clayson, aos 51, no 2 a 2 com o Internacional.

Se há mérito na capacidade de recuperação, também é importante lembrar que muitos pontos foram garantidos nessas condições porque a equipe só melhorou depois de sofrer gol ou gols. Contra o Atlético, foi possível virar, mas muitos pontos foram deixados pelo caminho por ter despertado apenas depois de gol adversário.

É importante enaltecer essa capacidade de recuperação, que combina com a tradição do clube, mas, para poupar um pouco os corações tricolores, torço por mais atuações como aquela contra o Vasco, quando a equipe partiu para cima desde o início, fez o resultado, e conseguiu administrar sem sustos.

O que também deve ser muito valorizado é o triunfo contra o terceiro colocado Atlético, primeiro adversário entre os 10 primeiros da classificação atual batido pelo Tricolor. Em compensação, é curioso que, entre os quatro primeiros colocados, apenas o Flamengo segundo colocado, conseguiu bater o Bahia. O líder Internacional e o São Paulo, quarto colocado, mesmo como mandantes, ficaram no empate. 

 publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 22.10.2020 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 44 - Estranha positividade - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 15.10.2020

Chega a ser estranho considerar como positivo um trabalho que começou com cinco derrotas em sete partidas, mas é exatamente assim que classifico a participação de Mano Menezes até o momento no Bahia, mesmo estando de volta à zona de rebaixamento. É necessário ir além dos resultados para entender os motivos pelos quais considero que ele tem dado uma contribuição importante para a equipe.

Fosse se apoiar friamente no aproveitamento dos pontos, a avaliação seria diferente. Afinal, com sete jogos sob o comando de Mano, o Bahia conquistou seis pontos, enquanto havia conquistado três a mais nas oito primeiras rodadas, com Roger ou Cláudio Prates no comando. Amanhã, contra o Goiás, o treinador passará a ter comandado a equipe em exatamente metade da campanha até o momento e, caso vença, igualará também o número de pontos, chegando a nove dos 18.

Se busca ainda igualar uma campanha que já era ruim, para buscar superá-la na sequência, eu me arrisco a imaginar que existe um consenso de que as atuações vêm sendo muito melhores do que nas rodadas anteriores à chegada do comandante. Mesmo nas derrotas, como foi contra o Fluminense, no domingo, o time parece mais seguro, competitivo, brigador e organizado. Falta ser ainda mais maduro. 

No jogo contra o Fluminense, um momento, ainda no primeiro tempo, chamou a minha atenção e, simbolizou a capacidade de comando do treinador. O time insistia em tentar resolver as jogadas com pressa e entregava a bola para os cariocas, sendo atacado logo em seguida. Um pedido de Mano para que a equipe rodasse mais a bola, para conseguir jogar, foi prontamente atendido. E passou a haver uma infinidade de passes trocados, que, pela falta de objetividade não pareciam contribuir muito ofensivamente, mas ajudavam a evitar uma pressão e ainda irritavam os adversários.

No início da competição, os jogadores pareciam incapazes de realizar tais sequências de passes contra as equipes qualificadas da Série A. Os jogadores pareciam mais afastados em campo. A opção pelos passes era sempre mais forçada. Hoje, os atletas parecem mais próximos. A formação do meio com jogadores com a qualidade de Elias e Daniel também facilita que essa troca de passes tenha bom nível.

O maior problema da equipe era unânime. A imensa quantidade de gols sofridos. Nas primeiras oito rodadas, já tinha levado 14 gols, quase dois por jogo. Nas sete partidas sob o comando de Mano, o número já diminuiu para nove. Mas a confiabilidade do setor defensivo, se é que já se pode dizer isso, parece algo mais recente. Começando contra o Vasco, quando Ernando foi deslocado para a lateral. Os acréscimos de estatura e poder de marcação fizeram com que a bola aérea defensiva, que causou tanto estrago, não tenha sido um problema contra Vasco e Fluminense.

Os problemas contra o Fluminense foram outros. Na semana passada, disse aqui que as críticas a Gregore no momento atual estão muito mais relacionadas à má fase logo após o retorno do futebol. Reitero que as atuações do camisa 26, de modo geral, já se assemelham a seus grandes momentos no clube, mas com uma diferença perigosa. Embora o combate siga o mesmo, a postura um tanto descuidada em alguns lances isolados tem causado prejuízos, como no pênalti em Nenê. 

É preciso evitar lances infantis que continuem jogando fora atuações consistentes. Nada de positivo valerá se a evolução no desempenho não for acompanhada urgentemente por uma ascensão definitiva na tabela. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 15.10.2020

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 43 - Recuperação de peças - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 08.10.2020

 

Recuperação de peças

Trocar ou reparar? É uma questão com a qual você já se deparou diversas vezes em sua vida. A melhor atuação do ano, no triunfo de ontem, por 3 a 0, contra o Vasco, representa bem que, às vezes, escolher a segunda opção pode dar certo. Além da recuperação na tabela de classificação, que parece ter sido iniciada, com dois triunfos, no intervalo de uma semana, ou três jogos, Mano Menezes parece estar buscando recuperar peças que podem vir a ser muito importantes no restante da temporada tricolor.

A grande atuação de Clayson contra o Vasco não começou ontem. A escalação da partida da quarta-feira da semana passada, com ele entre os 11, depois de uma chuva de críticas potencializadas pela perda do pênalti no jogo anterior, exemplifica bem a tentativa de recuperação. Contra o Botafogo, o camisa 25 já havia feito uma das melhores apresentações no ano e chamou a atenção por acreditar em algumas jogadas individuais que estavam sendo raras com a camisa tricolor.

Esse ainda não é o Clayson que fez o Bahia buscar a contratação, mas mostra uma evolução gigante. E ela pode estar acontecendo justamente por causa da insistência de Mano, que está ajudando na recuperação da confiança e daquele futebol que o fez ser destaque em título brasileiro no nem tão distante ano de 2017. Em três jogos, ele passou a partir para cima da defesa adversária, sem medo, fez um bonito gol, deu assistência, demonstrou raça. Mano poderia ter desistido dele, como parecia fácil. Mas não era o melhor caminho. Por causa do potencial de crescimento do jogador e também porque ele foi uma das maiores contratações da história do clube, em termos de valores. Não é um jogador emprestado que não mostra resultados e é devolvido.

É um exemplo do que me parece ser uma estratégia. Sempre fui contra o discurso sobre a falta de qualidade geral no elenco do Bahia por tudo que já vi deles, aqui ou em outros clubes, em outros momentos. E, se Mano Menezes conseguir recuperar essas peças, o crescimento talvez seja maior do que com a chegada de um caminhão de reforços. É importante dizer que, com a lenta, mas visível, melhora coletiva da equipe, as individualidades começam a aparecer ou ser notadas.

Um dos exemplos é Gregore. Acredito que as críticas que ainda são direcionadas a ele tenham muito mais a ver com a queda de rendimento após a paralisação do que com o momento atual. E cabe lembrar que foi a primeira má fase em duas temporadas e meia no Esquadrão.

Como bem disse o camisa 5 Elias, na entrevista de chegada, no futebol, para ganhar confiança, demora, mas para perder é rápido. E uma atuação consistente como a de ontem pode servir para dar uma certa tranquilidade. A escalação de ontem trouxe algumas situações interessantes. Gostei das entradas e atuações de Daniel e Rossi. A boa atuação de Ernando na lateral-direita, no final da partida contra o Sport, parecia ter sido mais motivada pela situação específica de jogo, mas Mano apostou nele na vaga do lesionado Nino, e o camisa 14 deu conta do recado, com direito a assistência incrível para o gol de Gilberto.

A opção, que não sei se funcionaria por muito tempo, ainda fez aumentar a altura e a força física da defesa, buscando evitar os temidos e repetitivos gols em jogadas aéreas de bola parada. Felizmente, a equipe terminou um jogo sem sofrer gol, algo que não acontecia desde a estreia, contra o Coritiba.   

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 08.10.2020

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 42 - Exemplos de recuperação - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 01.10.2020

A história do Esquadrão é repleta de exemplos que servem para dar confiança na recuperação iniciada com o triunfo de ontem contra o Botafogo. Em 2018, por exemplo, enquanto boa parte da população mundial concentrava as expectativas relacionadas ao futebol na Copa do Mundo, disputada na Rússia, eu, mesmo fanático pela competição, ainda dividia boa parte da minha preocupação com a situação do Bahia, que, àquela altura, tal como até a rodada anterior, figurava na zona de rebaixamento da Série A, após 12 rodadas disputadas, como agora.

O triunfo contra o Corinthians, por 1 a 0, com golaço do lateral chileno Mena, justamente naquela 12ª rodada em que a competição seria paralisada, foi motivo de esperança de que aquela situação fosse passageira. O time, comandado pelo interino Cláudio Prates, jogou com Douglas (Anderson), Nino, Tiago, Lucas Fonseca e Léo Pelé; Gregore, Élton e Régis; Zé Rafael, Élber (Mena) e Kayke (Allione).

Durante a paralisação, entretanto, após a perda da Copa do Nordeste, em casa, para o Sampaio Corrêa, já sob o comando de Enderson Moreira, o que mais se ouvia, nas escadas da Fonte Nova, era que não teria como aquela equipe, que ainda tem seis remanescentes no clube, garantir a permanência do clube na Série A. Sem público nos estádios, o discurso visto agora na internet é muito parecido. Desde a crítica generalizada à qualidade dos jogadores até a cobrança incessante por reforços.

Na prática, aquela campanha, que terminou com um 11º lugar, foi alcançada com praticamente a mesma escalação contestada naquele momento. A agonia não demoraria tanto e a equipe logo se encontraria, deixando aquela aflição para os outros. Na volta da Copa do Mundo, a equipe ficaria sete rodadas invicto, totalizando nove, somando com as duas antes da parada. Sobre as contratações, tão pedidas em 2018 e agora, apenas Gilberto, que encerrou longo jejum ontem, chegaria para tomar conta da camisa 9, garantindo os gols que, tal como agora, faltavam naquela época. Do restante da equipe, apenas Ramires, que seria promovido da base, garantiria um lugar entre os 11, em posição que antes contava com o rodízio entre Régis e Vinícius. Além de Edigar Júnio, que estava lesionado e retomaria a vaga de titular. O exemplo indica que contratações pontuais acertadas talvez possam fazer mais efeito do que uma reformulação geral cobrada sempre em momentos de crise.     

Esse foi o exemplo mais recente e mais parecido com a situação atual, até por causa do momento do campeonato, mas o Bahia já reverteu situações piores para permanecer na Série A. Em 2017, por exemplo, o time chegou a figurar na zona de rebaixamento em um momento anterior do campeonato, mas a situação mais crítica parece ter sido quando, faltando 12 rodadas, apesar de estar na 13ª posição, tinha apenas um ponto a mais que a zona de rebaixamento, e não conseguia evoluir de jeito algum. Paulo César Carpegiani, o quarto treinador, conseguiu organizar o time, que deu um salto em desempenho e resultados, e chegou a sonhar com a Libertadores, terminando em 12º. Em 2013, a permanência só foi carimbada após o sofrido triunfo da penúltima rodada contra o Cruzeiro. Sem falar do inesquecível gol de Edmundo contra o Flamengo que evitou a queda em 1996.

Agora em 2020, independente dos resultados, que não estavam acontecendo, identifico uma clara evolução nas três partidas mais recentes, contra Corinthians, Athlético e Botafogo, todas como visitante. Se as coisas estavam dando errado mesmo com boas atuações, ontem a estrela voltou a brilhar em lances como a perda de gol inacreditável do atacante Babi.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 01.10.2020 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 41 - Virada na trama - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 24.09.2020

Bahia e super-heróis têm tudo a ver. Basta ver o mascote do clube: o Super-Homem, ou Homem de Aço. Além de Tricolor de Aço, sou fã de filmes e seriados com essa temática. Não venho, porém, falar dessa ligação institucional e histórica, mas das semelhanças entre o momento atual da equipe e um ponto fundamental do roteiro de quase todo filme de tal gênero. Aquele em que os heróis buscam um refúgio e tentam se reorganizar, depois de derrota clamorosa em uma das batalhas. Enquanto não voltam a enfrentar os vilões, tentam definir novas estratégias, arrumar reforços e recuperar as próprias forças, fortalecendo ou resgatando os próprios poderes.

Um dos exemplos para quem acompanha o Universo Marvel nos cinemas é a reunião dos heróis, depois de um grande revés, na fazenda da família do Gavião Arqueiro, no Vingadores – Era de Ultron - segundo filme da franquia. A analogia pode ser feita com esse intervalo de dez dias sem jogos da equipe, que segue se preparando no CT Evaristo de Macedo. É bem verdade que, nos filmes, essa pausa geralmente acontece depois da maior derrota dos protagonistas. No caso do Bahia, o 3 a 2 sofrido para o Corinthians está longe de representar esse momento, pelo placar,e, muito menos, pelo desempenho.

O retorno, contra o Athlético Paranaense, no sábado, entretanto, chega justamente no pior momento do clube na competição e no ano, já que, nesse meio tempo, o clube entrou na zona de rebaixamento. Esse momento dramático caberia perfeitamente em qualquer narrativa amparada na chamada jornada do herói, que não se restringe aos filmes de super-heróis. Aquele ponto de virada na trama.   

Mano Menezes está tendo um tempo inédito para ele, desde que chegou, e para o clube, desde que o futebol voltou com intervalos mínimos entre uma partida e outra. Ele assume o papel do mentor que busca despertar em cada integrante do elenco do Bahia os seus antigos poderes que andam esquecidos. Além de definir as melhores estratégias para superar os adversários.    

Ainda com relação ao momento do reagrupamento nos filmes de heróis, é nessa hora que eles buscam identificar outros potenciais aliados que ainda não aceitaram o chamado ao heroísmo para abraçarem a causa. No futebol, é a velha hora de contratar. Se a diretoria - confesso que eu também - achou que o Bahia poderia chegar ao final do Brasileiro sem contratar mais, após fechar o grupo para a disputa das primeiras competições do ano, já parece um consenso de que hoje é algo inevitável. Claro que a minha avaliação havia sido feita antes das quedas de rendimento individuais e coletivas e de algumas baixas, que precisam ser supridas.

Até o fechamento desse texto, o Bahia ainda não havia anunciado oficialmente nenhuma contratação. A especulação mais forte parece ser sobre a chegada do zagueiro Anderson Martins, que reforçaria a defesa mais vazada do Brasileiro. Entre outras especulações não tão concretas, confesso que o meu lado jogador de Master Liga se empolgou mais com a possível chegada do também zagueiro Ezequiel Garay, ex-Valência e seleção argentina.

É também a hora do retorno de alguns que haviam deixado a equipe, como é o caso de Eric Ramires. Que o tempo na Europa faça com que ele recupere os poderes demonstrados na temporada de 2019. Que Mano Menezes também consiga resgatar as qualidades esquecidas de tantos outros integrantes do grupo e que eles possam salvar o mundo, ou, mais especificamente, a temporada tricolor.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 24.09.2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 39 - Mudança de nível - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 10.09.2020

A contratação de Mano Menezes tem sido encarada como mais uma comprovação da subida de patamar da instituição, nessa escalada em torno da retomada de toda a grandeza histórica. Ainda considero a chegada de Rodriguinho mais simbólica, pois Mano está parado desde o final de 2019, em que não teve boa temporada, enquanto o camisa 10 é um jogador que imagino que 19 das 20 torcidas da Série A gostariam de contar, provavelmente como titular. A única exceção seria o Flamengo, que já o teve como sonho de consumo recentemente. Mas é inegável que o comandante reforça toda a ideia de mudança de nível.

A insatisfação com resultados e desempenho em 2020 fez brotar afirmações repletas de hipérboles. Concordo com carências apontadas no elenco, mas não, com a inexistência de qualidade. É também inegável que a formação do plantel tenha mostrado que o respeito do Bahia no mercado está cada vez mais consolidado. Além de Rodriguinho, o clube conseguiu vencer disputa acirrada por Rossi, que fez ótimo Brasileiro pelo Vasco, tirou Daniel do Flu, também depois de um 2019 destacado, além de ter apostado em Clayson, que, apesar de vir de um 2019 apagado, e ainda estar decepcionando por aqui, já foi importante até em conquista de Brasileiro.

Que a chegada de Mano resgate aquela expectativa do início do ano e que ele possa contribuir com a mentalidade vencedora. Antes dele, Falcão havia sido o ex-treinador de Seleção principal com passagem mais recente pelo Bahia. E o hiato entre a passagem de Mano pelo selecionado e a chegada ao Esquadrão é bem menor. Afinal, ele deixou a CBF menos de oito anos atrás, em 2012, mesmo ano em que Falcão comandou o Tricolor, 21 anos depois da saída da Seleção, em 1991.

Mano trabalhará no CT que recebe o nome de outro treinador com passagem pela Seleção, Evaristo de Macedo, comandante campeão brasileiro. Os irmãos Zezé e Aimoré Moreira foram outros dois ex-técnicos da Seleção que treinaram o Bahia.

Depois de passagem longa e vencedora no Cruzeiro, que se encerrou após desgaste e queda de desempenho, e um trabalho sem muito brilho no Palmeiras, Mano busca voltar a se destacar. Claro que a prioridade segue sendo fazer uma ótima campanha no Brasileiro, seguindo o processo de evolução ano a ano, no entanto, a experiência bem sucedida de Mano Menezes em competições eliminatórias oferecerá certamente um acréscimo na expectativa com relação à Sul-americana. Mano tem nesse tipo de disputa as maiores conquistas do currículo. Foram três títulos da Copa do Brasil. Com o Corinthians, em 2009, e o Cruzeiro, duas vezes, em 2017 e 2018.

Mano teve o primeiro momento de projeção nacional no Grêmio, justamente o adversário da noite de hoje, em Pituaço. Cláudio Prates merece os parabéns pela forma como fez com que a equipe jogasse contra o Inter e tentará ser ainda melhor sucedido contra outros gaúchos. As mudanças promovidas parecem ter causado efeito positivo. A principal alteração, e mais visível, entretanto, foi na postura. Seguirei com a dúvida se a escalação foi determinante para a melhora de desempenho.

De qualquer forma, era preciso mudar. Embora não goste da ideia de Rossi fora do time, entendo que a mudança de esquema foi positiva nesse jogo específico. Em casa, como hoje, ainda é preciso ver se tal formação é a mais apropriada. Por hora, pelo momento dos jogadores, tenho a impressão de que o prejuízo com a ausência de um centroavante poderia ser menor do que a falta que Rossi faria. Mano tem histórico de preterir centroavantes mais fixos em benefício da mobilidade ofensiva. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 10.09.2020 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 38 - Expectativa x realidade - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 03.09.2020

Assistir a qualquer jogo do Bahia é uma das atividades que mais me dá prazer, seja qual for a situação, mas ontem, logo no início, a sensação foi de pânico. De primeira, mais um gol foi entregue de bandeja para um adversário em 2020, mostrando que a noite não prometia coisa boa. Com uns 20 minutos, quando o placar já apontava 2 a 0 e a equipe seguia apática e assistindo aos cariocas jogarem como queriam, a preocupação não era nem mais com os três pontos, mas aparecia o receio em ver uma goleada sem precedentes em minha memória. Causava pavor a ideia de ter que assistir ao restante da partida.

Uma situação de exceção, afinal foram raras as vezes que me faltaram forças para seguir assistindo e acreditando. Fico imaginando que o sentimento dos flamenguistas e de quem gosta de jogos com muitos gols, foi totalmente oposto, afinal foram oito gols, com direito a alguns golaços. Eu mesmo já saí da antiga Fonte Nova com sentimentos conflitantes depois de um 7 a 4 a favor do Santos, de Diego e Robinho. Chateado, logicamente, com a derrota, mas com a satisfação de ter visto uma grande partida e de ter visto uma equipe do Esquadrão, muito inferior tecnicamente àquele Santos, ter uma postura totalmente diferente da que vi ontem.

No final, a postura da equipe e os erros sucessivos conseguiram incomodar mais do que o placar de 5 a 3. Sim, eu tive forças para seguir assistindo. E confesso que cheguei a acreditar em uma recuperação histórica ao final do primeiro tempo, quando o placar estava desfavorável em 3 a 2. No entanto, até eu, que sou chato com a ideia de que, em uma virada, é mais importante enaltecer os méritos de reverter uma situação ruim, do que as falhas anteriores, estava criando um compromisso comigo mesmo, de não deixar de criticar, nesse espaço, a péssima atuação defensiva da equipe até aquele momento, caso o placar fosse revertido na segunda etapa. No entanto, os outros dois gols do Flamengo trouxeram à tona novamente a sensação de pânico, só encerrada depois do golaço de Daniel e do apito final.

Já existia a expectativa para a saída de Roger Machado logo ao final do jogo e se tornou realidade com o anúncio oficial ainda na noite de ontem. No final do ano, já existia uma parte da torcida que era contrária à permanência do treinador em decorrência da queda de rendimento da equipe no segundo turno do Brasileiro passado, depois de uma ótima metade de competição. Durante a atual temporada, a eliminação na Copa do Brasil e a derrota no único Ba-Vi sob o comando do ex-lateral-esquerdo fizeram aumentar o número de insatisfeitos.

As boas apresentações a partir de então até a paralisação do futebol brasileiro deram uma acalmada nos ânimos, mas a queda de rendimento depois do retorno das atividades criou um clima ruim de insatisfação constante de boa parte da torcida.

Com a saída do principal alvo das críticas, proponho um tipo de reflexão. No início do ano, durante a construção do elenco para a temporada, qual era a sua expectativa para o ano de 2020? Era positiva? Negativa? De modo geral, imagino que a empolgação estava lá em cima. O Bahia passou a ser destacado por vários representantes da imprensa esportiva nacional, sem qualquer relação com o esporte baiano, como uma das equipes mais promissoras.

Como aquele clima foi dando espaço ao atual, aos poucos, durante o ano? Será possível que aquela expectativa do início de 2020 ainda possa se aproximar da realidade? Torço por isso.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 03.09.2020

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 37 - Sequência pesada - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 27.08.2020

Alvo de muita bronca da torcida, depois de duas rodadas em que deixou escapar um triunfo, que teria sido muito importante contra o São Paulo, e acumulou o terceiro revés seguido contra o Ceará, o Bahia tem um atípico intervalo entre um jogo e outro para recuperar fisicamente os jogadores, identificar e corrigir os erros e amplificar as virtudes, afinal só volta a campo no sábado contra o Palmeiras.

Além do campeão paulista, o Esquadrão enfrentará, em uma sequência pesada de quatro jogos, o campeão brasileiro e da Libertadores, Flamengo, o atual líder, Internacional, além do Grêmio, sempre apontado entre os postulantes ao título. Sem desprezar todo o peso histórico do São Paulo e a atual classificação da competição, em que o tricolor paulista figura à frente de Flamengo e Grêmio, ousaria dizer que os quatro próximos oponentes seriam superiores aos quatro anteriores.

Motivo de desespero? Não necessariamente. Se apontei o São Paulo como um pouco inferior atualmente aos quatro próximos adversários, também o apontaria como superior aos outros três anteriores – Coritiba, Red Bull Bragantino e Ceará. E contra qual dos oponentes, o Bahia teve a melhor atuação até agora? Na minha opinião, contra o São Paulo, melhor deles. Justamente por isso, por mostrar que o triunfo era possível e estava na mão, o empate sofrido no final frustrou e revoltou tanto a torcida.

A mística tricolor de crescimento nas adversidades e a forma de atuar da equipe, que parece mais moldada para confrontos contra equipes mais fortes do que quando precisa lidar com o favoritismo, animam a acreditar que os bons resultados possam retornar nos próximos jogos, acompanhados de grandes atuações.

A sequência de quatro próximos compromissos trouxe recordações de um momento de extrema apreensão no Brasileiro de 2017, quando Paulo César Carpegiani assumiu o comando do Bahia. Embora a preocupação deva existir agora, depois de duas rodadas frustrantes, naquela ocasião, havia muito mais motivo para esquentar a cabeça de cada tricolor. Afinal, faltando 12 rodadas, o Bahia estava em 13º lugar, apenas um ponto à frente da zona de rebaixamento. Além disso, o clube havia acabado de retornar à Série A, ainda não tinha conseguido fazer campanhas seguras na primeira divisão com pontos corridos e os resultados não vinham. Carpegiani já era o quarto treinador.

A sequência de jogos era agravante. Pela frente, Palmeiras (vice-campeão daquele ano), Corinthians (campeão), Flamengo (sexto colocado), além da rivalidade como componente complicador no clássico Ba-Vi. Os sete pontos acumulados nos 12 em disputa contra esses quatro oponentes, além das boas atuações e o triunfo contra o rival, deram importante impulso para as cinco rodadas seguintes, em que alcançou 11 dos 15 pontos disputados, garantindo a manutenção na Série A e se colocando na disputa por vaga na Libertadores, depois de muitos anos. Um ponto apenas nas três rodadas finais acabou com a esperança.

Não sei por qual motivo, mas os confrontos do Bahia contra Flamengo e Palmeiras geralmente têm vindo sempre próximos nas tabelas dos Brasileiros mais recentes. E, no ano passado, assim como agora e em 2017, olhar para os próximos jogos e ver os nomes dos dois times causou apreensão. No primeiro turno, o Tricolor vinha de cinco jogos sem vencer e iria encarar os dois. Um triunfo por 3 a 0 contra o Flamengo, na Fonte, e um empate, em 2 a 2, contra o Palmeiras, em São Paulo, resgataram a confiança da equipe, que completou uma boa metade de campeonato. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 27.08.2020

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 36 - 100% emoção - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 20.08.2020

A emoção foi incrível. Quando o zagueiro Luiz Eduardo do São Paulo tentou cortar cruzamento para a área feito por Nikão e acabou jogando contra a própria meta, a torcida explodiu de vez em Pituaço. O que parecia impossível pouco tempo antes estava materializado. Uma das maiores viradas que já vi. Tomando 3 a 1 até os 24 minutos do segundo tempo, o Esquadrão acabava de chegar, aos 37 do segundo tempo, aos 4 a 3, que seria sustentado até o final.

Toda vez que o Bahia enfrenta o São Paulo, como fará hoje à noite, no Morumbi, alguns confrontos me vêm à mente e esse é um dos principais. Meu otimismo com relação ao Tricolor costuma buscar no meu HD as lembranças desse jogo também em diversas outras partidas, para me convencer que a virada é possível.

Joel Santana, no comando do Bahia na ocasião, contava com jogadores como Souza Caveirão, Gabriel, Titi, Paulo Miranda, Dodô, Nikão, Lulinha, Lomba, enquanto o São Paulo tinha Lucas Moura, Luis Fabiano, Cícero, Marlos, Dagoberto, entre outros. O placar do primeiro tempo, com 1 a 0 para o São Paulo, não dava indícios do que viria pela frente. A situação começou a mudar quando, no primeiro minuto do segundo tempo, Souza recebeu pela esquerda, cortou para dentro e deixou tudo igual.

Nem deu para comemorar direito e o São Paulo voltou à frente do placar, com um gol de Lucas no segundo minuto. Aos 14 minutos, Cícero ainda fez o terceiro dos paulistas. Foi somente 10 minutos depois, que Lulinha voltou a dar esperanças de um melhor resultado, aproveitando cruzamento rasteiro de Nikão. Ainda no embalo, aos 28 minutos, Fahel, de cabeça, aproveitando cruzamento de Souza, fez o gol do empate, nove minutos antes do gol contra que daria números finais ao confronto.

Se aquele confronto de 2011 foi 100% emoção, a expectativa da torcida para hoje é que o Esquadrão consiga manter os 100% de aproveitamento, alcançando o terceiro triunfo no Brasileiro, mesmo sabendo que a manutenção da invencibilidade já poderia ser considerada positiva. A tendência é que a emoção também marque presença no jogo de hoje, levando em consideração os dois primeiros jogos em que ela fez hora extra, no esforço para segurar ou para buscar o resultado até o final.

Como foi com Ernando, que garantiu o triunfo contra o Red Bull Bragantino com um gol de cabeça e chega com moral para o duelo desta noite, justamente contra o adversário contra quem havia vivido o melhor momento no Bahia, nas oitavas de final da Copa do Brasil de 2019, quando deu uma arrancada espetacular para acompanhar o ritmo de Artur, receber o passe e dar um toque de classe, tirando do goleiro e garantindo a vaga nas quartas de final, após dois triunfos, por 1 a 0.

Foram mais dois confrontos contra o São Paulo inesquecíveis para mim, como de costume. Se aquele havia sido o melhor momento do camisa 14 com a camisa tricolor até o momento, na minha opinião, também foi um dos melhores do Bahia sob o comando de Roger. O reencontro, ou mais um encontro, já que as equipes já empataram sem gols no segundo turno do ano passado, acontece nesse momento em que os dois personagens seguem buscando constância nesse processo de redenção.

O zagueiro vem tendo a primeira sequência como titular desde o meio do ano passado, quando precisou fazer uma cirurgia motivada por uma hérnia de disco, e vem mostrando plena recuperação. Já o treinador convive com críticas pesadas e deve saber que, se os resultados continuarem positivos como nas duas primeiras rodadas, a tendência é que elas comecem a cair no esquecimento.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 20.08.2020 

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 35 - 45 minutos para matar a saudade - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 13.08.2020

Não foi tão empolgante quanto a goleada de 6 a 2 contra o Athlético Paranaense em 2017, nem quanto o triunfo por 3 a 2 no Corinthians no ano passado, mas pela terceira vez consecutiva em que estreou como mandante na Série A desde que retornou à Série A em 2017, o Tricolor começou vencendo. Em 2018, o Esquadrão também venceu o primeiro jogo em casa, por 1 a 0, contra o Santos, mas já havia sido derrotado na estreia. O 1 a 0 de ontem contra o Coritiba valeu demais pelos três pontos, mas também serviu para matar a saudade de uma boa atuação da equipe. Pelo menos por 45 minutos.

Minha teoria de que a queda de rendimento nas retas finais da Copa do Nordeste e do Baiano estava intimamente relacionada à questão física, em decorrência da grande quantidade de jogos em poucos dias, foi reforçada ontem. O intervalo entre a final de sábado e a estreia no Brasileiro foi maior do que qualquer tempo de espera entre uma partida e outra desde que voltou à atividade, chegando a 11 jogos em 17 dias. Não parece ter sido suficiente para recuperar plenamente os atletas, mas já serviu para possibilitar uma melhor atuação na primeira etapa.

Sem um centroavante de ofício, Rodriguinho jogou mais avançado que de costume, como já tinha sido utilizado por Carille na época de Corinthians. A troca de passes, que estava sendo um problema nas partidas mais recentes, melhorou sensivelmente no primeiro tempo, e o Bahia conseguiu envolver o Coritiba, faltando ainda ser um pouco mais incisivo.

Participando de boas triangulações, Rodriguinho foi decisivo ao sofrer o pênalti depois de boa jogada e também por cobrar com muita classe, com direito a cavadinha. Na segunda etapa, o time chegou a ser dominado durante boa parte do tempo pelo Coritiba, mas soube resistir e não desperdiçar os primeiros três pontos. Ainda desperdiçou boas chances de ampliar e garantir o triunfo.

Dando uma pausa no pensamento sobre o Campeonato Brasileiro, aproveito para enaltecer o tricampeonato baiano conquistado no sábado passado. Por mais machucados que estivessem os nossos corações, pela decepção na Copa do Nordeste, comemorei mesmo. Coerentemente com a minha postura desde o início do ano, quando, humildemente, tentava defender que o Campeonato Baiano deveria ser valorizado.

Aproveito para expor a minha opinião de que o clube valorizou a competição mais nas ações do que nos discursos. Nas atitudes, foi feito sempre o que estava ao alcance para vencer o 49º estadual, já que não seria possível usar o time titular por causa do calendário. Os grupos poderiam ter sido separados, o que cheguei a pensar que aconteceria levado por declarações públicas. Sem jogo no final de semana, força máxima na segunda final.

Deixo o meu apelo para nos próximos anos, se ele ainda existir, o estadual seja valorizado nos discursos, assim como nas atitudes. Não me parece inteligente diminuir a importância de uma competição que, por muitas vezes, garante o único título da temporada para o Bahia. Almejemos sempre o topo, como também faço, mas sabendo ser felizes com o que conquistamos. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 13.08.2020 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 34 - Prêmio de consolação? - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 06.08.2020

O tricampeonato baiano, se conquistado no próximo sábado (8/8), não pode ser encarado como mero prêmio de consolação. E nem serviria a tal contento. Correndo o risco de me tornar repetitivo, já que na semana passada falei sobre a importância pessoal que o estadual tem para mim, volto a alertar sobre o tema.

De primeira, sei como isso soa. Que eu estaria tentando engrandecer o Baiano, já que agora é o que resta como conquista possível nessa parte do ano. Ledo engano. Por sorte, nessa coluna, na semana passada, ainda empolgado com a classificação suada para a final do Nordeste, já deixava clara a minha opinião sobre o estadual.

Para começar, o Bahia não conquista um tri do Baiano desde 1988. Um feito que não foi repetido antes desses 32 anos não pode ser jamais considerado como algo simples ou corriqueiro. Não é. Fosse assim, o Esquadrão teria enfileirado outras sequências iguais ou superiores dentro desse intervalo de tempo. Fosse fácil, como se tenta, insistentemente, alardear, o Tricolor não teria voltado a vencer apenas em 2012, desde o título anterior em 2001.

A reorganização do clube pode ter devolvido ao Bahia o histórico favoritismo, que já estava esquecido. Deu ao torcedor o direito de almejar coisas mais grandiosas, mas não tornou fácil, nem muito menos transformou em uma mera formalidade ou obrigação vencer o Baiano. Tenho medo desse sentimento porque ele flerta com a prepotência e torna o próprio torcedor refém. Como comemorar com orgulho a conquista de uma competição que ele próprio desdenhou anteriormente?

Quando a questão é o Bahia, quem me conhece bem sabe que sou um otimista convicto. Sempre acredito na estrela tricolor, seja qual for a situação adversa. Sou o cara que achava possível a virada contra o Cruzeiro em 2003 até o sexto deles. A partir de então, já era demais até para mim.

Paradoxalmente ao meu otimismo em situações adversas, sou totalmente avesso a qualquer clima de “já ganhou”. Na verdade, confesso até ser medroso com relação a esse tema. Em parte, o medo vem pela tradicional superstição futebolística. O temor, entretanto, também envolve algo mais complexo. Acreditar que o Bahia tem o melhor elenco do Nordeste, eu acredito. Mas não considero que seja vexaminoso não ser campeão de uma competição que conta com outros três clubes de Série A, como Ceará, Fortaleza e Sport, sem contar outras forças tradicionais da região.

Não pense, você, entretanto, que eu não fiquei indignado. Considero como um vexame, sim, pela forma como o Bahia deixou de conquistar o quarto título da Copa do Nordeste. Ser anulado, como foi, em duas partidas contra o Ceará foi angustiante. O meu tal otimismo, por exemplo, foi embora com poucos minutos do jogo de terça pela falta de elementos que me dessem confiança. Esperei para escrever mais tarde porque foi duro dormir e mais ainda acordar com tamanha decepção. Tivesse escrito antes, minhas palavras teriam outro tom certamente.

Embora continue acreditando em boas campanhas no Brasileiro e na Sul-americana, pois os jogadores que foram muito mal na reta final do Nordeste não devem ter desaprendido a jogar, é inquestionável que a perda do título regional diante do único time de Série A enfrentado pelo Bahia no ano acende um sinal de alerta para o futuro na temporada. O time que voou contra o Náutico não saiu do chão contra os cearenses. Alguns jogadores que considero como titulares poderiam dar um tempo para outros em melhor momento. É preciso deixar o campo escalar o time. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 06.08.2020

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 33 - Domínio territorial - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 30.07.2020

O cronômetro marcava 46 minutos da segunda etapa. Depois de receber uma bola recuada, o goleiro Jean abriu na direita para o zagueiro Missinho, que mandou um balão desordenado. Depois de quicar no gramado da Fonte, o beque Advaldo NBA cabeceou para frente, o volante Souza, com a cabeça enfaixada, simbolizando a sua usual raça, cabeceou despretensiosamente. A torcida adversária já comemorava e nem deve ter percebido o risco daquela improvável jogada. Mas a bola traiu os defensores e sobrou para a finalização daquele camisa 15, que saiu do banco para entrar, não só, naquela partida, mas também na história do Esquadrão. O título estava nas mãos dos rivais até os acréscimos do segundo tempo. O que tornou aquele feito ainda mais lendário. Ele fez outros tantos gols, mas se você ouvir alguém falar “o gol de Raudinei”, com direito a artigo definido, não estará a falar de outro.

É muito difícil ver um gol decisivo como o de Daniel, também saindo do banco, na semifinal do Nordeste de ontem, já aos 43 minutos da segunda etapa, e não lembrar de 1994. Essa, que foi uma das maiores emoções que o futebol já me proporcionou, e que completará 26 anos na próxima semana, não aconteceu em uma partida de Brasileiro, Sul-americana, Copa do Nordeste, nem Libertadores. Mas de Campeonato Baiano, naquele que era o 40º dos nossos 48 títulos estaduais.

Imagino que seria voto vencido em uma decisão sobre o futuro dos estaduais. Adianto que, como tradicionalista convicto, faria campanha pela manutenção. Entendo as dificuldades de calendário, escancaradas ainda mais na atual e atípica temporada. Não consigo me desapegar, entretanto, da importância de ser campeão baiano. Acordar na manhã seguinte da conquista de um título estadual tem um sabor especial, doce, como mel. Forte sensação de domínio territorial. E como é bom mostrar essa óbvia e reconhecida superioridade em número de títulos.

A tendência da maioria parece ser contrária à permanência dos estaduais, de um modo geral. Alerto para a necessidade do cuidado com essa onda de diminuição da importância de uma competição para enaltecimento de outras. Já observou que é cada vez mais frequente ouvir que a temporada de um clube está terminada quando é eliminado da Libertadores, ainda que faça boa campanha no Brasileiro? Mesmo raciocínio que diminui feitos de campeões nacionais na Europa que não conquistam a Liga dos Campeões. Concordo plenamente com a diminuição das datas utilizadas no Baiano, pelo menos para as equipes com calendário mais apertado, mas jamais na redução de importância.

Por tudo isso, sigo empolgado e ansioso, tenso, torcendo para que o Bahia supere as dificuldades para utilização do elenco e comece bem hoje, contra a Jacuipense, a participação na fase eliminatória do Baiano, e que consiga conquistar um tricampeonato que não vemos desde 1988, precedendo a segunda conquista nacional. Meu desejo, inclusive, é que o Esquadrão tenha condições de superar a maior sequência de títulos baianos da história: o hepta conquistado de 1973 a 1979, contando com a participação de jogadores lendários como Baiaco, Sapatão, Douglas, Fito, Beijoca e Osni. Isso se o estadual ainda resistir até lá, claro.

Além disso, apenas em 2001 o Bahia conseguiu unificar os títulos da Copa do Nordeste e do Baiano em uma mesma temporada. No sábado (1/8), tentará dar mais um passo em busca de igualar a marca, iniciando a decisão regional em dois jogos com o Ceará, lutando pelo tetra.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 30.07.2020

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 32 - Nem tudo como antes - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 23.07.2020

O tempo que o torcedor tricolor levou para soltar o grito de gol na goleada de ontem contra o Náutico foi inversamente proporcional ao intervalo de quatro meses sem jogos. Três minutos e Élber já respondeu presente, mandando uma bomba de muito longe e fazendo um golaço. Emblemático que o grande destaque da primeira parte da temporada, tenha se destacado tão rápido. Deu a impressão de que nada mudou para ele durante a parada. E não só pelo gol. Com as tradicionais arrancadas, certamente teria levantado a torcida várias vezes, se ela estivesse presente.

Se a atuação de Élber e da equipe como um todo deram a impressão de que nada havia mudado desde a parada, alguns detalhes mostram que nem tudo estava como antes. Mudando para melhor. A começar pelo tipo do gol de Élber, algo que ele não é muito acostumado a fazer. Outra novidade muito positiva foi o fato de Rodriguinho ter balançado as redes pela primeira vez com a camisa tricolor e ter dado mais uma dose de otimismo para a torcida sobre o seu desempenho no clube no futuro. Impressiona a forma como ele faz fluir o jogo.

A mudança com relação à primeira parte da temporada ficou ainda mais evidenciada nos casos específicos dos autores dos gols da segunda etapa. E devo confessar que fiquei especialmente feliz com essa possível guinada, já que os dois estão entre os integrantes do elenco que tenho maior admiração

Fernandão deixou a sua marca em sua primeira finalização. Ele, que já demonstrou entrega e importância no grupo atuando até como goleiro nesta temporada, foi útil no que é especialista. Em balançar as redes. A atuação, segundo o próprio camisa 20, poderia ser melhor. Mas esse é o caminho. Nino Paraíba, que ainda não tinha atuado em 2020, fechou a conta também com um golaço em que esbanjou da habitual velocidade.

Não fosse o pênalti inventado por Jorge Henrique, o Esquadrão teria terminado a primeira fase na liderança do grupo A. Classificado como segundo, o Tricolor já enfrentará o Botafogo da Paraíba no próximo sábado (25/7) pelas quartas de final da competição. Confirmando o bom momento e passando pelos paraibanos, o adversário da semifinal seria o vencedor do duelo entre Confiança e Santa Cruz.

Sem descanso, o Bahia defende a liderança do Campeonato Baiano, faltando duas rodadas para o final da primeira fase, contra o Atlético de Alagoinhas, também em Pituaço, Roger Machado tentará dar continuidade à boa campanha iniciada por Dado Cavalcanti. Dos antigos titulares que colocaram o clube na liderança, de forma invicta, apenas Ignácio, Édson, Ramon, Alesson e Saldanha permanecem no elenco.

A escalação de hoje ainda é um mistério. Mas apostaria na manutenção dos cinco titulares, além da entrada de Mateus Claus e Yuri, que começaram alguns jogos

durante o estadual. Restariam ainda quatro vagas. Um zagueiro, os dois laterais e um atacante. Ernando poderia contribuir com experiência e ganhar ritmo de jogo.

Para o ataque, pensando da mesma forma, acreditaria na utilização de Marco Antônio, mas ele atuou no segundo tempo de ontem. A vaga seria preenchida provavelmente por Thiago ou Fessin. Zeca poderia atuar em uma das laterais, também para ganhar ritmo. A outra lateral seria ocupada por Douglas Borel ou Matheus Bahia.

O time de hoje seria formado, portanto, por: Mateus Claus, Zeca, Ernando, Ignácio e Matheus Bahia (Douglas Borel); Yuri, Édson e Ramon; Alesson, Fessin (Thiago) e Saldanha. Claus, Ernando e Zeca estiveram no banco ontem. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 23.07.2020 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 31 - Preparados para a maratona? - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 16.07.2020

Quando a próxima edição dessa coluna for publicada, na quinta-feira (23/7), o Bahia já deverá ter entrado em campo, na véspera, contra o Náutico, pela Copa do Nordeste. Será a largada de uma incrível maratona de quatro jogos em cinco dias, de quarta a domingo com folga apenas na sexta-feira (24/7).

Não deveria causar estranheza, já que jogos do Tricolor em intervalos de tempo tão curtos em 2020 não são novidade. Vale lembrar que na semana anterior à paralisação do futebol brasileiro, o Esquadrão enfrentou Confiança e Doce Mel, em rodada dupla na Fonte, no mesmo dia, com uma parada pouco superior a uma hora.

A questão é que no início do ano, o Bahia contava com dois grupos distintos, com direito a comissões técnicas divididas entre as competições. Agora Roger Machado deve estar esquentando a cabeça para avaliar junto com o departamento de futebol qual a melhor estratégia para utilização dos 34 jogadores do elenco nesse momento específico da temporada.

Parece impossível utilizar o time titular em tantas partidas consecutivas. Será necessário, então, dividir os grupos para multiplicar os títulos. A divisão talvez não seja tão rígida quanto a do início do ano, embora Fernandão e Saldanha tenham atuado nos dois grupos, por exemplo. Esse intercâmbio deve ser mais frequente de maneira forçada pelo número de jogadores disponíveis.

De início, o que pode beneficiar é o local dos duelos. Dos quatro jogos nesse intervalo de cinco dias, por exemplo, três já estão marcados para Pituaço. O primeiro, contra o Náutico, na quarta-feira (22/7), o segundo, contra o Atlético de Alagoinhas (que também tem o estádio como mando de campo para o restante do estadual), no dia seguinte, e o confronto de domingo (26/7) que encerra a primeira fase do Baiano, contra o Fluminense de Feira. Falta definir o local e o adversário da partida do dia anterior, pelas quartas de final da Copa do Nordeste.

Sem grandes deslocamentos, imagino que os atletas que forem para o banco de reservas de um jogo e não jogarem ou atuarem por pouco tempo, possam começar jogando a partida seguinte. Caso mais para frente, questões logísticas impeçam tal prática, será necessário também traçar a melhor estratégia. Manter o conceito do início do ano, ou buscar um equilíbrio entre os grupos? Para exemplificar, seria melhor colocar jogadores do nível de Fernandão, Clayson, Nino Paraíba e Zeca no banco de reservas de uma partida do Nordeste ou como titulares em um jogo do Baiano?

Parto do pressuposto de que o time titular, utilizado na Copa do Nordeste, seja formado por Anderson, João Pedro, Lucas Fonseca, Juninho e Juninho Capixaba; Gregore, Flávio e Rodriguinho; Élber, Rossi e Gilberto. Sendo assim, imagino uma equipe para o Baiano contando com Douglas, Nino Paraíba, Ernando, Wanderson e Zeca; Ronaldo (Élton), Ramon e Daniel; Marco Antônio, Clayson e Fernandão.

As formações não seriam tão rígidas, devido aos desfalques, como a ausência de Gregore, suspenso, contra o Náutico, e possivelmente de Douglas, que está lesionado. Além deles, o elenco principal do Esquadrão conta com outros 11 jogadores: Mateus Claus, Matheus Teixeira, Ignácio, Yuri, Édson, Jádson, Alesson, Fessin, Thiago Andrade, Saldanha. e Caíque.

Que a estratégia escolhida seja a melhor e que o Bahia chegue para o duelo contra o Botafogo, na abertura do Brasileiro (entre os dias 8 e 10 de agosto), com títulos e boa rodagem. Nível físico e ritmo de jogo serão fundamentais no nacional. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 16.07.2020