domingo, 13 de abril de 2014

A saga do título baiano - 45 vezes Bahêa

Dois anos atrás, quando o Bahia conquistou o seu 44º título baiano, escrevi neste blog um texto que dizia que aquele não era um título qualquer. E listava argumentos que justificavam essa ideia. O principal, lógico, era que findava um enorme jejum. Pois agora percebo que qualquer título tem os seus diferenciais. E, mais uma vez, o Esquadrão conquista um título especial e memorável. Dessa vez, o principal motivo é evidente: foi o primeiro estadual após toda mudança política e administrativa que aconteceu em 2013.  São 45 títulos estaduais na galeria do bicampeão brasileiro.

Mais que isso, se em 2012, após tamanho jejum, o título só poderia vir daquela forma sofrida, o troféu veio agora marcado pela inquestionável superioridade (curiosamente, em 2012, o tricolor chegou com vantagem às finais, ao contrário de agora). O Bahia foi muito superior nos clássicos do Campeonato e, não fosse o tropeço na estreia contra o Galícia, teria sido campeão invicto.

Para mim, o título foi muito importante também por causa da minha participação. Em 2012, acompanhei os emocionantes jogos da decisão pela TV. Na verdade, desde 2001, quando o Bahia conquistou o Campeonato do Nordeste, na antiga Fonte Nova, contra o Sport, com o inesquecível golaço de Preto, eu não ia, por inúmeros motivos, a uma final de campeonato. Na realidade, nos últimos anos, todos os Ba-Vis que fui, foram a trabalho. E estive invicto. Foi então que, pouco antes do primeiro Ba-Vi da Fonte Nova no ano, eu comentei a meu pai que nunca mais ele tinha ido pra os clássicos e sempre que a gente ia junto, saía comemorando o triunfo. Emendei, prontamente, que a gente tinha que ir naquele Ba-Vi para resgatar aquele retrospecto. 

A confirmação da nossa participação, entretanto, só se deu em cima da hora, como uma arma secreta guardada do treinador Marquinhos Santos. Fomos eu, meu pai e minha esposa para o setor leste, enquanto meu irmão, Lucas, foi para o oeste com a noiva. Suamos, literalmente, a camisa pelo triunfo, porque o sol daquele lado do estádio é mais implacável do que Rhayner, que abriu o marcador. Lincoln completou o 2 a 0, com direito a lepo lepo. E como foi bom ver meu pai, todo feliz, vibrando com mais um triunfo. Lembrei dos tempos de criança, os primeiros Ba-Vis que fui com ele na década de 1980 e 1990.

Quando veio a decisão, o argumento já estava pronto. "Temos que ir para fazer a nossa parte para garantir o título". Estava disposto até a encarar novamente o sol inclemente do leste, para manter o que deu certo no clássico anterior, mas, pela internet, só consegui achar ingresso para o oeste. Busquei então, na lembrança, todo o retrospecto favorável daquele lado, que sempre foi o nosso lado, na antiga Fonte. Ingressos, meu e dele, impressos, liguei fazendo a convocação oficial para o jogo. A torcida organizada sofria desfalques, minha esposa, Lucas e a noiva não poderiam ir. Meu amigo André, que iria reforçar a torcida, foi desfalque de última hora, por problemas na coluna.

A bola rolou e o clássico, como sempre, estava tenso. Até que Maxi fez excelente tabelinha com Talisca, que mandou no canto pra fazer com que a gente explodisse na arquibancada. Festa geral e mais lepo lepo. Minha esposa conseguiu reforçar a torcida, chegando atrasada, bem no momento do gol. Meu bandeirão, só recrutado em momentos decisivos, estava a postos. No segundo tempo, a superioridade tricolor era gritante. A expulsão de Uelliton, junto com Hugo, foi preocupante. Mas o gol de Fahel fez a ideia do título soar como certeza. O olé no final foi o camarão no acarajé, para usar uma analogia mais baiana. E necessário. O desgaste foi muito grande e foi o recurso utilizado para manter os 2 a 0.

Agora, teríamos que fazer a nossa parte para garantir o título. Depois de 13 anos, merecíamos voltar a gritar "é campeão", dentro do estádio. Esse foi o argumento utilizado para convencer meu pai. Passei a semana em Irecê, a trabalho. O grupo dos Irmãos no whatsapp me atualizava sobre as notícias. Se estava confiante no título, não tinha tanta convicção na minha presença no estádio. Previa muita confusão para conseguir os ingressos já que o Bahia só teria direito a 3.200, muito pouco para essa imensa torcida.

Cheguei de Irecê, imaginando que teria que me contentar em ver pela TV, mais uma vez. Até que Carlinha, prima de minha esposa, que também estava ansiosa para ir ao jogo, ligou dizendo que estava na fila. Corri para lá. Foram pelo menos cinco horas no sol, mas valeu a pena. Sem confusão, uma turma animada, até o ator Guga Walla estava por lá. Cada saída com o ingresso na mão era, em si, um ato de erguer o troféu com todo orgulho.

Um acontecimento foi emblemático sobre como nos sentimos responsáveis pelo time. Uma senhora, muito idosa, amparada por duas mulheres jovens, tentou passar direto pela fila para comprar os ingressos. Aquilo gerou um certo desconforto em muitos que estavam na fila e desconfiavam que ela não iria comprar para ela mesmo e os verdadeiros compradores dos ingressos passariam na frente de gente que estava desde cedo na fila. O torcedor mais exaltado, entretanto, apresentava outro motivo para a indignação. "Ela não vai vibrar lá no estádio. Só vamos ter 3.200 torcedores. Só pode ir quem for gritar, incentivar e pular durante os 90 minutos. Não podemos abrir mão do incentivo de nenhum torcedor".

A atitude em si não é louvável porque ninguém tem o direito de selecionar os torcedores que vão poder entrar por qualquer critério (a não ser nos casos de proibições por comportamento violento), mas representa bem o quanto o torcedor não subestima a nossa parcela de contribuição para a conquista. Para o estádio, fomos eu, meu pai, minha esposa e Carlinha, além da noiva de meu irmão, que foi para o lado rubro-negro. Lucas estava em um voo para São Paulo naquele momento.

E, em campo, pude ver essa sintonia entre time e torcida. Estávamos, reunidos, lá no canto. E não paramos de cantar e incentivar. O árbitro estava péssimo, complicando nas marcações contra o tricolor. O que já começava a me preocupar. Por isso, quando Talisca pegou para cobrar uma falta pelo lado da área, bati no ombro de meu pai e disse: o gol tem que sair agora pra tranquilizar.

Falar de maiores emoções que já sentimos com o Bahia é até complicado. São tantas. Mas o gol de cabeça de Fahel, aproveitando a cobrança de Talisca, abrindo o placar, ainda no primeiro tempo, certamente, entrou para o ranking das maiores que já senti. Passei, pelo menos, uns cinco minutos depois tentando voltar a respirar normalmente. Ou próximo do normal, pois não teria como regularizar por completo naquele cenário. Mais uma vez eu digo, olhar para o lado e ver meu pai tão feliz daquela forma é e sempre será um dos maiores presentes que posso ganhar.

Eu estava tão convicto do título que no segundo gol, de Lincoln, a emoção nem foi comparável ao do primeiro. Agora seria só administrar, mas acho que o time administrou demais e acabou cedendo o empate, deixando de vencer mais um clássico em que foi absurdamente superior. Valeu. Quando o árbitro encerrou a partida, nem o gás de pimenta que alguém disparou contra nós conseguiu diminuir a nossa festa. É campeão. Por 45 vezes e quantas mais vierem. Mais um, Bahêa!!!

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