sábado, 11 de abril de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 17 - Talento de sobra - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 09.04.2020


Quando ele partia com a bola dominada, era difícil alguém desarmar. Arrancadas, inteligência, pensamentos rápidos, boa finalização, faziam parte dos atributos de um dos grandes heróis da minha infância, que chegou ao Bahia há 30 anos, para honrar a camisa 10. Depois do meia-atacante Luís Henrique, nenhum outro jogador foi convocado para a Seleção Brasileira principal enquanto atuava pelo clube.

Há 30 anos, também, o Bahia fazia grande campanha no Campeonato Brasileiro. O time chegou à semifinal, contando com esse craque discreto como um dos grandes destaques. Ele teve atuações inesquecíveis, como na goleada contra o Fluminense, por 4 a 1, nas Laranjeiras, quando deu um drible mágico antes de sofrer um pênalti, e ainda fez um golaço.
 
O time de 1990 era muito forte e terminou a competição em quarto lugar, com 26 pontos em 23 jogos, perdendo apenas cinco vezes. Foram oito triunfos e 10 empates. Na época, uma equipe computava apenas dois pontos a cada partida vencida, por isso a pontuação geral pode parecer baixa, mas o Corinthians, campeão e time que mais pontuou na competição, fez 32, apenas seis pontos à frente, com dois jogos a mais. É uma das melhores equipes do Bahia que vi jogar. 

Além de Luís Henrique, o time tinha outros grandes expoentes. Contava com quatro remanescentes da equipe titular do título brasileiro de 1988: os meio-campistas Gil Sergipano e Paulo Rodrigues e os atacantes Marquinhos e Charles, grande estrela do elenco, com status de jogador de Seleção Brasileira. Ele, inclusive, confirmou o papel de protagonista, garantindo a artilharia da competição, com 11 gols marcados. Foram 44% dos tentos marcados pelo segundo melhor ataque do torneio.

Naldinho, que já havia jogado com Luís Henrique na Catuense, também fez um campeonato impressionante, desmontando defesas com muita velocidade e dribles incríveis. Além de Charles, o time contava com outro representante da base, o lateral Maílson, um dos melhores da posição na história do clube. 

A dupla de zaga titular também se destacou e teve grande responsabilidade no fato de o clube ter garantido a terceira melhor defesa da competição em média de gols sofridos. Jorginho, irmão de Júnior Baiano, na jogada aérea, e Wagner Basílio, nas cobranças de falta, também colaboravam ofensivamente.  

O time-base, comandado por Candinho, era formado por: Chico, Maílson, Jorginho, Wagner Basílio e Gléber; Gil, Paulo Rodrigues e Luís Henrique; Naldinho, Marquinhos e Charles. O volante Delacir foi titular durante metade da campanha. O atacante Hélio começou jogando apenas uma vez, mas saiu do banco outras 11 vezes. O goleiro Ricardo Dantas, o lateral Gilvan e os meio-campistas Marcelo Jorge e Renatinho foram alguns dos outros nomes com participação na competição.

No primeiro jogo da semifinal, um jogão, o Tricolor aumentou a esperança de que o terceiro título brasileiro poderia estar a caminho, quando, logo no início, Wagner Basílio cobrou bem uma falta e abriu o placar no Pacaembu, com 40 mil presentes, mas um gol contra de Paulo Rodrigues e outro do grande herói do título corintiano, Neto, fizeram com que o Corinthians levasse a vantagem do empate para a Fonte.    

A torcida encheu a Fonte Nova, com quase 65 mil pagantes, para o jogo de volta, mas o Corinthians segurou o empate sem gols e acabou com o sonho tricolor. Ainda assim, ficam grandes memórias daquele ano, como os emocionantes confrontos das quartas-de-final, quando, depois de um empate em 1 a 1 fora de casa, o Bahia passou pelo time paulista em um emocionante triunfo, por 3 a 2.

publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 09.04.2020

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