sexta-feira, 8 de maio de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 21 - De promessa a realidade - publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 07.05.2020


Quando estava a caminho da Fonte Nova no dia 11 de novembro de 2001, junto com meu pai e irmãos, não poderia imaginar que estaria prestes a presenciar um momento histórico para o futebol. O Bahia enfrentaria o Paraná e, no momento, um dos atrativos era a boa campanha do Tricolor, que caminhava para garantir vaga nas quartas-de-final do Brasileiro, restando cinco rodadas para o final da primeira fase. Mas as ausências do lateral Denilson e do versátil Mantena abriram espaço para a estreia de uma jovem promessa de 18 anos.

As lembranças desta partida vieram à tona ontem, no dia 6 de maio, quando a tal promessa completou 37 anos de idade. Aquele jovem e desconhecido Daniel hoje é conhecido em todo o planeta como Daniel Alves, ou Dani Alves, e é considerado como um dos maiores jogadores da sua posição na história, além de ser um comprovado imã de títulos, como a passagem por diversos clubes e pela Seleção comprovam.

Bobô, que era responsável pelas divisões de base do clube à época, já me contou que o mestre Evaristo de Macedo, treinador tricolor em 2001, solicitou um lateral-direito da base para completar os treinos. Foi quando o antigo camisa 8 escolheu Daniel, que tinha sido descoberto no Juazeiro.

Segundo Bobô, após o primeiro treino, Evaristo ligou, reclamando sobre o jogador escolhido. Por já conhecer o treinador de longa data, e saber que ele gostava de fazer esse tipo de jogo, ele deu corda. Disse que tudo bem, que iria selecionar outro lateral para o próximo treino. Então Evaristo teria dito que poderia mandar Daniel novamente. Continuava reclamando nas conversas com o antigo comandado, mas bancou a estreia de Daniel e certamente não se arrependeu.  

Naquela tarde de domingo, o Bahia enfrentaria o Paraná, logo depois de levar 6 a 3 do rival Athletico Paranaense, na Arena da Baixada, em um jogaço. A luta para a classificação continuava e o Esquadrão precisava voltar a vencer. E logo no início a personalidade do novo lateral-direito chamou a atenção. Com quatro minutos, cruzou para área, o defensor adversário cortou com a mão e foi marcado o primeiro pênalti do jogo. Robgol cobrou com a tradicional categoria e abriu o placar.

O lateral-direito continuou se destacando e, no final do primeiro tempo, Robgol aproveitou um recuo errado para o goleiro e ampliou. Na segunda etapa, Daniel foi derrubado na área. Robgol, melhor cobrador de pênalti que vi no Bahia, fez o terceiro na partida. Depois daqueles 3 a 0, ele não esteve em campo apenas em um empate contra o Coritiba. Nos outros três jogos da primeira fase, contra Gama, América Mineiro e Sport, três triunfos. E um empate contra o São Caetano, nas quartas-de-final, encerrou a campanha tricolor.

No ano seguinte, Daniel conquistou o primeiro título da carreira, quando o Bahia venceu a Copa do Nordeste, derrotando o Vitória na decisão. No primeiro jogo, na Fonte Nova, um 3 a 1, com gols do trio de ataque formado por Sérgio Alves, Robgol e Nonato. No Barradão, Nonato decidiu, com dois gols, no empate por 2 a 2.

Depois de ser negociado com o Sevilla, em 2003, foi campeão mundial sub-20 com a seleção brasileira. Nas temporadas 2005/2006 e 2006/2007 foi um dos protagonistas do bicampeonato da Copa da Uefa. Na temporada 2008/2009, chegou ao Barcelona, onde conquistou três Mundiais de clubes, três Ligas do Campeões da Europa e seis campeonatos nacionais. Na Juventus, foi campeão italiano uma vez, e no PSG venceu dois franceses. Na Seleção, disputou as Copas de 2010 e 2014. 


publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 07.05.2020

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