quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entrevista com Paulo Maracajá

LEANDRO SILVA | O que essa data representa?
PAULO MARACAJÁ | Representa a maior conquista esportiva que já tive na minha vida. Afinal de contas, eu tive a honra de ser o presidente do Bahia na hora em que o clube conquistou o Campeonato Brasileiro de 1988, concluído em 19 de fevereiro de
1989. É o ponto máximo ser campeão de um País chamado Brasil. É algo inesquecível que marcou a minha vida e a de todos os torcedores do Bahia, e deixa uma saudade
muito grande.

LS| Qual amaior contribuição do senhor para o título?
PM | Foi presidir,coordenar e liderar, porque você sabe que, para ter êxito, tem que ter liderança. E eu liderei um time de dirigentes dos mais competentes. Nós tínhamos
os falecidos Raimundo Deiró e Fernando Moreira como diretores de futebol, Francisco
Pernet, como diretor financeiro. E citaria Orlando Aragão, o maior supervisor de futebol que eu conheci...O inesquecível Alemão(massagista). Tivemos uma comissão
técnica chefiada por Evaristo de Macedo e o professor José Carlos Queiroz.

LS| O senhor não achou que as saídas de Sidmar e Pereira poderiam ter sido decisivas?
PM | Não foi, por causa da qualidade dos reservas. Eu nem diria reservas: a qualidade dos jogadores que entraram no lugar. Ronaldo fechou o gol e Claudir era um
gigante de ébano. A zaga formada por João Marcelo e Claudir foi excelente nos seis jogos finais.

LS | E qual a análise técnica daquele elenco?
PM | Eu acho que se dosou a mocidade com a experiência. Você tinha a mocidade de João Marcelo e Charles e a experiência de um Paulo Rodrigues, um Paulo Robson.
E nós tivemos a felicidade de ter o maior frente-de-zaga da história da Bahia, que eu conheci. Acompanho futebol desde os anos 50 e acho Paulo Rodrigues o melhor cabeça-de-área que vi.

LS | Por que o senhor acha que nenhum outro clube nordestino, nem o próprio Bahia,
conseguiu repetir o feito?

PM | O Bahia quase chega perto.Um ano depois, em 1990, ficou entre os quatro no Brasileiro, quando perdeu para o Corinthians, lá, por 2 a 1, e empatou aqui, em 0 a 0. Se ganhasse de 1 a 0, iria para a final novamente. Então, tentou. Em 1994, foi sexto colocado. Então, chegamos a brigar. Mas você sabe que o Brasileiro é muito difícil, principalmente para os clubes nordestinos. Você vê que o Sport Recife
foi campeão, ‘vírgula’, disputando o módulo amarelo, contra os times da Segunda Divisão.

LS| Logo depois da conquista, Bobô deu uma declaração de que a Bahia não veria um título como aquele nos próximos 30 anos. O que o senhor achou daquela declaração?
PM | Eu acho que 20 anos se passaram. Bobô disse 30. Então ainda faltam 10 anos para a gente quebrar esse vaticínio (risos). E tomara que seja quebrado pelo Bahia. E sejamos campeões brasileiros novamente.

LS | O senhor vê perspectivas de o Bahia voltar a ser campeão brasileiro?
PM | Eu acho que pode.O Sport,em 2008, foi campeão da Copa do Brasil. O Paulista de Jundiaí e o Santo André, também. Eu acho que pode, sim. É só contratar os jogadores certos, motivar a equipe, ter atrás de si um grande treinador e uma grande torcida. Basta abrir o estádio de Pituaçu pra lotar. Então, ter a torcida do Bahia por trás já é um handicap muito grande.

LS | Por que o Bahia não conseguiu aproveitar a oportunidade de crescimento?
PM | O Bahia aproveitou. Conseguimos bater o recorde de sócios, mais de 10 mil. E revitalizar a sede de praia do clube. Fizemos parque infantil, piscina, toboágua
e conseguimos com isso melhorar muito o quadro social do Bahia. Hoje, se o Bahia estivesse na Série A, teria R$ 1 milhão e meio por mês. Como está na Série B, só recebe 400 mil. A visibilidade da Série A é maior. Então, os contratos de patrocínio são mais baixos na Série B. O que desequilibra a favor do Bahia é a torcida porque lota, mesmo com ingressos de R$ 20 ou 30.

LS | Além do troféu e do orgulho do torcedor, o que o clube ganhou com a conquista?
PM | A rivalidade. Porque o Vitória não pode cartar com a gente em nível estadual. A maior sequência de títulos é nossa, com o heptacampeonato, que completa 30 anos em setembro. E no âmbito nacional, a gente pode dizer ao torcedor do Vitória: ‘a gente
tem duas estrelas no peito. E vocês,têm aonde?’. Não têm. No Nordeste, ninguém tem. O único bicampeão brasileiro é o Bahia. E você sabe que existe essa rivalidade
entre os torcedores. E esse é um título inesquecível para os torcedores.

LS | Do topo do País, em 1989, o senhor imaginava ser possível o Bahia chegar a uma
Série C de Brasileiro?

PM | Não. Eu nunca pensei nisso, tanto que eu estou repetindo pra você que, em 1990, o Bahia foi terceiro, e em 1994 foi sexto. Eu nunca pensei nisso, mas são coisas
que acontecem no futebol.Graças a Deus, já subimos para o purgatório e agora temos que ir para o céu, que será a Série A.

LS | Tanto tempo depois, existe alguma coisa de bastidores que nunca foi contada e que o senhor poderia contar agora?
PM | Tem muita coisa de bastidores que se passou. Mas eu acho que deve continuar nos bastidores ainda, porque eu acho que você não pode revelar tudo. Se houve indisciplina de algum jogador,ou algum problema, não temos que ficar contando. Nós
temos é que nos unir por termos sido campeões brasileiros que é o sonho de qualquer presidente e de qualquer jogador.

LS | Quer falar mais alguma coisa sobre aquela época?
PM | Agradecer à maior manifestação da minha vida. No aeroporto, no dia que o Bahia chegou. O avião pousou e milhares de baianos invadiram a pista e tiraram os jogadores do avião para o trio elétrico. Fomos até a sede de praia. E o povo vibrando nas casas. Uma emoção inesquecível. Eu fui uma vez ao aeroporto quando o Papa veio a Salvador. O Bahia suplantou até a recepção que o povo baiano deu ao Papa.
Porque o Bahia tem a torcida que mais ama seu clube. O torcedor mais apaixonado. Não tem torcedor mais fiel que o do Bahia.

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