sexta-feira, 26 de junho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 28 - Simples, como se fosse fácil - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 25.06.2020

Um dos maiores camisas 9 que tive a felicidade de ver honrando as tradições do Bahia completa 47 anos hoje. Daqueles que vi jogando, apenas Uéslei balançou as redes mais vezes que ele com o manto do Esquadrão. Marcelo Ramos é um dos caras que dão a nítida impressão de que nasceram para serem goleadores. Fazia gol com uma naturalidade que impressionava, dando a impressão de que era algo fácil. Seja no seu início no Fazendão, como promessa que se confirmava a cada jogo, ou em sua segunda passagem em 2008, já veterano.

Carrasco do rival, fez nove gols em Ba-Vis. Dos quatro estaduais que disputou com a camisa tricolor, não venceu apenas em 1992. Em 1991, 1993 e 1994 foi fundamental nas conquistas. E o início foi meteórico. Com apenas 17 anos, já havia estreado profissionalmente. O primeiro gol foi marcado em um amistoso contra a Catuense em 1991. Mas foi na decisão do primeiro turno do Baiano daquele ano que os holofotes se voltaram diretamente para o jovem Marcelo, que fez um lindo gol de bicicleta no triunfo, por 2 a 1, que garantiu o troféu, contra o Fluminense de Feira. Aquele era apenas o quinto gol marcado por ele. Ao todo, foram sete gols naquela competição, conquistada novamente contra o tricolor de Feira.

Em 1992, começou a balançar as redes no Brasileiro, chegando a oito gols. No Baiano, foram outros 17 tentos. Três deles em Ba-Vis. Em 1993, em seu segundo título baiano, castigou os goleiros adversários 22 vezes, garantindo a artilharia e o título do certame e novamente fazendo três contra o Vitória. No nacional da temporada, marcou em mais seis oportunidades.

Em 1994, conquistou o terceiro título baiano, fazendo oito gols na campanha do famoso gol de Raudinei, sendo novamente três em Ba-Vis. No Brasileiro, em que o Bahia fez boa campanha e se classificou para as quartas-de-final, balançou as redes outras nove vezes.

Em 2008, depois de carreira consagrada, teve importância fundamental. O Bahia tinha subido para a Série B no ano anterior e, sem poder atuar em Salvador, em decorrência da interdição da antiga Fonte Nova, encontrava grandes dificuldades na disputa do Brasileiro, atuando como mandante no Joia da Princesa, em Feira.

Quando foi anunciado pelo Bahia em 10 de julho daquele ano, aos 35 anos, o time estava a apenas três pontos da zona de rebaixamento. Encerrou a participação na décima colocação, distante sete pontos da zona. Formou com Paulo Roberto uma dupla que aliava experiência e juventude, já que o parceiro tinha apenas 19 anos. Juntos, foram responsáveis por 14 gols, quase um terço dos 47 gols marcados pela equipe no campeonato.

No jogo que encerrou as chances de rebaixamento, na 36ª rodada, abriu o marcador, de pênalti, no triunfo por 2 a 0 contra o CRB. Foi o gol de número 128 de Marcelo com a camisa do Esquadrão. Com essa marca, ele é o sexto maior artilheiro da história do clube, atrás apenas Carlito, Douglas, Hamilton, Uéslei e Osni.

Os sete gols marcados nessa segunda passagem comprovaram a profundidade do repertório, com gol de cabeça, de pênalti, de cobertura, de raça. Ainda faltaram os tradicionais golaços de falta. O segundo gol dele marcado no triunfo de 3 a 2 contra o Vila Nova foi uma aula do estilo Marcelo Ramos, dominou a bola da entrada da área, quase de costas para o gol, e, mesmo desequilibrado, deu um tapa de esquerda, tirando do alcance do goleiro, simples, como se fosse fácil. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 25.06.2020 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 27 - Trincas de segurança - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 18.06.2020

O torcedor tricolor certamente guarda, na memória e no coração, grandes tríades ofensivas que proporcionaram muitas alegrias, como Sérgio Alves, Robgol e Nonato, ou Douglas, Osni e Beijoca, ou ainda Bobô, Zé Carlos e Charles e tantos outros. Com menos consenso, outras trincas de obrigações mais defensivas também são lembradas por muitos torcedores. No próximo final de semana, dois componentes de um dos mais clássicos trios de volantes do Bahia farão aniversário. No sábado, dia 20, Hélder completa 36 anos, enquanto no domingo, 21, Diones comemora 35 anos. Fahel era o terceiro integrante. Entre idas e vindas do time titular, eles formaram um eficiente trio de volantes durante as temporadas 2011 e 2013.

Hélder, o primeiro a chegar ao clube, em 2010, já tinha formado um trio com Bruno Octávio e Fábio Bahia na campanha do acesso para a Série A em 2010. Após lesão de Bruno Octávio, Marcone assumiria a vaga. Fahel e Diones chegariam praticamente juntos como contratações para o Brasileiro de 2011. Durante essas temporadas, eles dividiam opiniões e lidavam com críticas. Alguns treinadores costumavam promover algumas modificações no esquema ou na escalação, mas na hora do aperto, a bola de segurança costumava ser lançar mão dos três meio-campistas juntos.

Foi o que aconteceu na decisão do Baiano de 2012, em que o Bahia encerrou um longo jejum de títulos, com um gol de Diones garantindo o empate contra o Vitória. O meia Morais havia saído do time justamente na final, para reforçar a marcação com os três. No Brasileiro do mesmo ano, Fahel e Fabinho vinham sendo utilizados no meio, enquanto Hélder atuava como lateral. A campanha era ruim até que na estreia de Jorginho, o trio foi remontado. O Tricolor venceu o Santos, de Neymar, por 3 a 1, a equipe embalou e se recuperou.

No início desse ano de 2020, o Tricolor vinha atuando com uma formação parecida, com Gregore, mais fixo, enquanto Flávio e Daniel tinham um pouco mais de liberdade. Dois maus resultados fizeram com que a tática fosse modificada. Daniel saiu do time para a entrada do atacante Rossi, aumentando a ofensividade.

Gregore e Flávio passaram a dar sustentação a um quarteto ofensivo formado por Clayson, Élber, Rossi e Gilberto. A entrada do meia-atacante Rodriguinho seria natural, mas não houve tempo para descobrir, antes da parada, quem sairia. O mais provável pelas apresentações no início do ano era que o escolhido fosse Clayson, que passaria a ser uma qualificada arma guardada no banco de reservas.

Talvez a intenção inicial de Roger Machado com os três meio-campistas fosse buscar se aproximar da formação utilizada em um dos melhores momentos da temporada passada sob o seu comando, quando também havia um trio formado por Gregore, Élton e Douglas Augusto, que deixou o clube durante o Brasileiro.

As referências dentro do clube são antigas. A primeira utilização de um trio de volantes que me vem à memória foi em parte da campanha de semifinalista do Brasileiro de 1990, quando Delacir se juntou à dupla remanescente do titulo nacional de 1988, formada por Gil e Paulo Rodrigues. O atacante Marquinhos, no entanto, voltou ao time, que terminou a competição somente com os dois campeões brasileiros.

Em 2001, na boa campanha tricolor no Brasileiro, o mestre Evaristo de Macedo escalava um quarteto de volantes de origem. Embora Preto já jogasse mais avançado, terminou ganhando a Bola de Prata como melhor volante do Brasileiro. Ramalho, Bebeto Campos e Ramos completavam o quarteto de meio de campo.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 18.06.2020

 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 26 - Força do interior - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 11.06.2020

 O atacante Gustavo é o único atleta confirmado no elenco principal do Bahia com passagem anterior por alguma equipe do interior do Estado. Ele havia se destacado no estadual de 2019 com a camisa do Jequié, mesmo com o rebaixamento. Os exemplos recentes de jogadores com essa origem não empolgam, mas casos do passado podem servir de inspiração para ele.

Um dos maiores nomes da história do clube, o meio-campista Bobô, que é baiano de Senhor do Bonfim, deve ser o melhor exemplo. Ele chegou ao clube em 1986 depois de se destacar pela Catuense, que forneceu grandes jogadores para o Esquadrão. Como o companheiro de título de 1988, Sandro, baiano de Camacã.

O time titular de 1988 contava com Bobô, Claudir e Tarantini, que vinham de equipes do interior. Sandro e Edinho Jacaré também atuavam. O zagueiro Claudir, baiano de Vitória da Conquista, já havia se destacado no Serrano. O lateral-direito Tarantini, que é baiano do município de Itarantim, vinha do Fluminense de Feira. Edinho Jacaré, que é de Feira de Santana, também já havia se destacado pelo Fluminense de Feira antes do título brasileiro.

A Catuense, além de Bobô e Sandro, também forneceu grandes jogadores como o meio-campista mineiro Luis Henrique, o atacante baiano Naldinho e o carioca Zanata, um dos melhores laterais da história do clube, que atuou entre 1986 e 1988. Vandick, em 1991, além de Missinho e Rivelino, em 1994, foram outros nomes.

Luis Henrique e Naldinho se destacaram em outros anos com a camisa do Bahia, mas tiveram como melhor momento juntos a campanha no Brasileiro de 1990, quando o Tricolor foi semifinalsta. Aquele time contava ainda com outro destaque oriundo do interior do Estado. O zagueiro feirense Jorginho, que havia se destacado no Fluminense de Feira antes de se tornar um dos melhores defensores da história do Esquadrão, entre 1990 e 1993.

O Touro do Sertão é outro tradicional fornecedor de talentos para o Bahia. Do time do interior campeão baiano de 1969, por exemplo, vários destaques jogariam também no Esquadrão como o inesquecível zagueiro Sapatão, hepta estadual entre 1973 e 1979, além de João Daniel, Delorme, Ubaldo e Mário Braga. Outros nomes foram Renato 74. Edmilson, Luiz Antônio, Etto, Janilson, além de Jean, que teve grande passagem pelo Fluminense, antes de retornar ao Fazendão, em 1994.

Mais recente, mas também campeão baiano por um clube do interior, Diones chegou ao clube junto com o goleiro Jair e o atacante João Neto, após o título pelo Bahia de Feira. Enquanto os dois parceiros não tiveram muitas chances, o volante maranhense foi titular durante boa parte do período entre 2011 e 2013. Em 2012, fez o gol do título baiano, contra o Vitória, encerrando um longo jejum de títulos.

Um pouco antes, em 2007, o atacante Charles, que vinha da Camaçariense, entrou para a história do Bahia ao balançar as redes do Fast, aos 50 minutos do segundo tempo, garantindo a presença do Esquadrão no octogonal decisivo da Série C daquele ano em que o clube conseguiria o seu primeiro acesso. Curioso é que aquela jogada foi realizada por ex-jogadores de agremiações do interior do Estado. O meia Inho Baiano, ex-Poções, arrancou pelo meio, abriu na direita para o lateral Carlos Alberto, ex-Itabuna, que cruzou para a inesquecível finalização de Charles. Rogério, ex-Ipitanga, que teve uma passagem consistente pelo clube entre os anos de 2007 e 2009, e Ednei, ex-Colo-Colo, também faziam parte daquele elenco. 

 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 11.06.2020 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 25 - Talentos de casa - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 04.06.2020

 

Considero as atuações do lateral-esquerdo Juninho Capixaba e do meia-atacante Élber como as mais consistentes do Bahia no início de 2020. Curioso é que os dois tiveram passagem pela base tricolor. O primeiro retornou este ano, por empréstimo, depois de se destacar no Brasileiro de 2017 e ser negociado com o Corinthians que o repassou ao Grêmio. Já o segundo não chegou a ser revelado pelo clube, seguindo trajetória na base até se destacar profissionalmente por Cruzeiro e Sport e retornar em 2018, doze anos depois de deixar o antigo Fazendão.

No time titular, pode-se dizer, então, que apenas Juninho foi revelado pelo Esquadrão. No elenco considerado principal, antes da fusão forçada pela pandemia, apenas o meia-atacante Marco Antônio fazia companhia, embora Saldanha, titular da equipe de transição, tenha atuado em uma partida da Copa do Nordeste.

Bem pouco para um clube com tradição de revelar grandes jogadores. Na conquista nacional mais recente, por exemplo, quatro titulares eram crias do Fazendão: Zé Carlos, Charles, João Marcelo e Ronaldo.

Um time do Bahia que me marcou bastante foi o de 1994, que surpreendeu no Brasileiro, com uma campanha consistente, chegando às quartas-de-final. Aquela equipe também chamava a atenção pela expressiva presença de talentos nativos. Uéslei, Marcelo Ramos, Jean, Paulo Emílio, Ronald, Samuel e Nilmar deixavam apenas quatro vagas restantes na escalação titular para aqueles que não começaram na base tricolor. Odemilson, Lima, Souza e Raudinei costumavam completar.

Chamava ainda a atenção o fato de que os sete ainda eram bem jovens naquela campanha. Ninguém tinha mais que 22 anos. Uéslei, Paulo Emílio e Ronald tinham 22, Jean, Marcelo e Nilmar, 21, e o caçula era Samuel, que começou o campeonato com 19.

Quase todos se destacaram naquele ano. Por isso, foram titulares juntos. Boas campanhas em competições de base e carências na equipe principal também já promoveram outras subidas em massa de peças da base depois daquela turma de 1994. O resultado, entretanto, não costuma ser o mesmo.

Em 2015, por exemplo, após o rebaixamento de 2014, o clube chegou a ter como titulares em um momento ou outro da temporada: os goleiros Omar, Jean e Douglas Pires, o zagueiro Robson, os laterais Railan e Vitor Costa, os meio-campistas Feijão, Bruno Paulista, Gustavo Blanco, Yuri e Rômulo, além do atacante Zé Roberto, que foi bastante utilizado. A maioria tinha chegado à equipe principal naquela temporada ou na anterior. Apesar do título baiano e de ter sido finalista no Nordeste, a equipe não alcançou o acesso para a Série A.

Fica claro, portanto, que não existe uma fórmula pronta para que as joias da base possam prosperar. Depois de passar um ano como reserva, Jean voltou à titularidade em 2017 e Juninho Capixaba também terminou o Brasileiro como titular. Após a saída da dupla, somente Eric Ramires e Marco Antônio chegaram a ser titulares em momentos dos anos de 2018 e 2019.

Alguns dos outros nomes revelados pelo clube que foram titulares e nos deram alegrias, em diferentes medidas, no atual século foram: Nonato, Daniel Alves, Mantena, Jair, Danilo Gomes, Luís Alberto, Cícero, Elias, Valdomiro, Chiquinho, Neto Apolônio, Neto Potiguar, Paulinho, Bruno, Ávine, Marcone, Eduardo Neto, Rafael Bastos, Danilo Rios, Ananias, Paulo Roberto, Gabriel, Mádson, Pará e Talisca.

 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 04.06.2020