sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 46 - Expandindo fronteiras - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 29.10.2020

Não tem tanto tempo assim que os confrontos internacionais ficavam restritos à imaginação ou às lembranças dos torcedores tricolores. Hoje à noite, o Bahia enfrenta o Melgar, do Peru, na retomada da Copa Sul-americana, e a relação com os jogos continentais já é outra. Há, inclusive, a esperança de que, assim como em 2018, o Bahia consiga chegar longe. E que, dessa vez, as arbitragens não interrompam o sonho do título internacional, como aconteceu nas quartas de final contra o Athlético.

Por falar nas lembranças além fronteira, na Libertadores de 1989, os campeões brasileiros de 1988 enfrentaram uma equipe peruana nas oitavas de final. Depois de um empate, no Peru, em 1 a 1, com o Universitário, com o gol marcado por Osmar, o Tricolor venceu o jogo de volta na Fonte, por 2 a 1 e se classificou para as quartas de final. Marquinhos e Charles fizeram os gols.

Essa lembrança é bem melhor do que a do único confronto com um adversário peruano em sete participações da própria Copa Sul-americana. Já que o Bahia saiu da competição nas oitavas de final em 2014 depois de disputa de pênaltis contra o Universidad César Vallejo.

A expectativa é que dessa vez o Esquadrão elimine os peruanos. É tanto tempo desde a primeira fase da atual edição, que é bom lembrar que o Bahia chegou a esse confronto depois de passar pelo Nacional, do Paraguai, com duas excelentes atuações e dois triunfos tranquilos, por 3 a 0, na Fonte Nova, e 3 a 1, fora. Se no Brasileiro Gilberto começou a fazer gols recentemente e está distante dos goleadores, na Sul-americana, o camisa 9 tricolor foi o artilheiro da primeira fase, com três gols.

O primeiro foi marcado na Fonte Nova, em partida que contou ainda com um gol de Élber e o golaço de Gregore, primeiro com a camisa tricolor. Os outros dois foram feitos no Paraguai, quando Élber também marcou novamente. Curioso é que o jogo de ida talvez tenha sido a melhor apresentação da equipe antes da paralisação e aconteceu no momento de maior pressão, vindo de derrotas que custaram vaga na Copa do Brasil e a longa invencibilidade em clássicos. A partir dali, o time manteve a consistência até a parada do futebol.

Dessa vez, o Bahia volta à competição depois de um triunfo muito importante contra o Atlético Mineiro e de um bom período para treinamento. Com um número maior de vagas disponíveis para inscrição, entraram na lista vários jogadores da base que ainda não tiveram chance na equipe principal.

Além dos que foram mantidos, também entraram alguns jogadores do antigo grupo de transição, que era comandado por Dado Cavalcanti, que teve o regresso ao clube anunciado nessa semana. Nem serve muito como parâmetro, porque a atuação no primeiro tempo da partida contra o Atlético não foi boa, mas foi interessante ver que o Bahia iniciou com três integrantes daquele elenco – Fessin, Ramón e Édson -, ainda contou com a entrada de Alesson. Curiosamente, Saldanha, o mais utilizado do antigo grupo, não atuou nessa ocasião. Cada um, em diferentes níveis, já demonstrou qualidades na atual temporada. Torço e considero importante que o clube consiga contratar definitivamente os emprestados Ramón e Fessin.

Antes do Baiano, apontei aqui Gustavo, já negociado, e Fessin, como aqueles de quem mais esperava no elenco. Com mais ritmo, Fessin vem correspondendo às minhas expectativas. Outras peças muito conhecidas também foram inscritas agora, como Rodriguinho, Elias, Marco Antônio, Eric Ramires e Anderson Martins.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 29.10.2020 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 45 - Poder de recuperação - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 22.10.2020

 Em meio a toda a irritação pela campanha longe da expectativa gerada para a temporada tricolor, por muitas vezes, não são devidamente enaltecidas algumas virtudes vistas por agora, como a capacidade de recuperação da equipe dentro das partidas, maior inclusive do que em outras temporadas mais consistentes e tranquilas.

Cinco dos 19 pontos ganhos até agora, por exemplo, foram conquistados depois de a equipe sofrer o primeiro gol. Além da primeira virada na competição, no 3 a 1 contra o Atlético Mineiro, na rodada passada, o Esquadrão buscou dois empates nessas situações adversas. Contra o Palmeiras, quando Marco Antônio fechou o placar, em 1 a 1, aos 49 minutos do segundo tempo. E frente ao Goiás, Fessin empatou também aos 49. A lista poderia ser ainda maior caso o gol de Gregore, contra o Sport, no mesmo minuto, não tivesse sido anulado.

Para efeito de comparação, a equipe do ano passado fez oito dos 49 pontos a partir dessas situações, com uma virada na estreia contra o Corinthians e cinco empates depois de sair atrás no placar.

O poder de recuperação atual não tem a ver apenas com não desistir por estar atrás do marcador, mas também por buscar um resultado melhor até o apito final. São sete pontos conquistados graças aos gols marcados a partir dos 30 minutos do segundo tempo. Dos cinco pontos já citados, quatro foram conquistados com gols nessa fase final das partidas. Apenas o primeiro ponto do triunfo contra o Atlético não entrou na conta, pois Daniel fez antes dos 30. O Bahia ainda alcançou outros dois pontos graças ao gol de Ernando, aos 48, no 2 a 1 contra o Bragantino, e mais um ponto com o gol de Clayson, aos 51, no 2 a 2 com o Internacional.

Se há mérito na capacidade de recuperação, também é importante lembrar que muitos pontos foram garantidos nessas condições porque a equipe só melhorou depois de sofrer gol ou gols. Contra o Atlético, foi possível virar, mas muitos pontos foram deixados pelo caminho por ter despertado apenas depois de gol adversário.

É importante enaltecer essa capacidade de recuperação, que combina com a tradição do clube, mas, para poupar um pouco os corações tricolores, torço por mais atuações como aquela contra o Vasco, quando a equipe partiu para cima desde o início, fez o resultado, e conseguiu administrar sem sustos.

O que também deve ser muito valorizado é o triunfo contra o terceiro colocado Atlético, primeiro adversário entre os 10 primeiros da classificação atual batido pelo Tricolor. Em compensação, é curioso que, entre os quatro primeiros colocados, apenas o Flamengo segundo colocado, conseguiu bater o Bahia. O líder Internacional e o São Paulo, quarto colocado, mesmo como mandantes, ficaram no empate. 

 publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 22.10.2020 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 44 - Estranha positividade - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 15.10.2020

Chega a ser estranho considerar como positivo um trabalho que começou com cinco derrotas em sete partidas, mas é exatamente assim que classifico a participação de Mano Menezes até o momento no Bahia, mesmo estando de volta à zona de rebaixamento. É necessário ir além dos resultados para entender os motivos pelos quais considero que ele tem dado uma contribuição importante para a equipe.

Fosse se apoiar friamente no aproveitamento dos pontos, a avaliação seria diferente. Afinal, com sete jogos sob o comando de Mano, o Bahia conquistou seis pontos, enquanto havia conquistado três a mais nas oito primeiras rodadas, com Roger ou Cláudio Prates no comando. Amanhã, contra o Goiás, o treinador passará a ter comandado a equipe em exatamente metade da campanha até o momento e, caso vença, igualará também o número de pontos, chegando a nove dos 18.

Se busca ainda igualar uma campanha que já era ruim, para buscar superá-la na sequência, eu me arrisco a imaginar que existe um consenso de que as atuações vêm sendo muito melhores do que nas rodadas anteriores à chegada do comandante. Mesmo nas derrotas, como foi contra o Fluminense, no domingo, o time parece mais seguro, competitivo, brigador e organizado. Falta ser ainda mais maduro. 

No jogo contra o Fluminense, um momento, ainda no primeiro tempo, chamou a minha atenção e, simbolizou a capacidade de comando do treinador. O time insistia em tentar resolver as jogadas com pressa e entregava a bola para os cariocas, sendo atacado logo em seguida. Um pedido de Mano para que a equipe rodasse mais a bola, para conseguir jogar, foi prontamente atendido. E passou a haver uma infinidade de passes trocados, que, pela falta de objetividade não pareciam contribuir muito ofensivamente, mas ajudavam a evitar uma pressão e ainda irritavam os adversários.

No início da competição, os jogadores pareciam incapazes de realizar tais sequências de passes contra as equipes qualificadas da Série A. Os jogadores pareciam mais afastados em campo. A opção pelos passes era sempre mais forçada. Hoje, os atletas parecem mais próximos. A formação do meio com jogadores com a qualidade de Elias e Daniel também facilita que essa troca de passes tenha bom nível.

O maior problema da equipe era unânime. A imensa quantidade de gols sofridos. Nas primeiras oito rodadas, já tinha levado 14 gols, quase dois por jogo. Nas sete partidas sob o comando de Mano, o número já diminuiu para nove. Mas a confiabilidade do setor defensivo, se é que já se pode dizer isso, parece algo mais recente. Começando contra o Vasco, quando Ernando foi deslocado para a lateral. Os acréscimos de estatura e poder de marcação fizeram com que a bola aérea defensiva, que causou tanto estrago, não tenha sido um problema contra Vasco e Fluminense.

Os problemas contra o Fluminense foram outros. Na semana passada, disse aqui que as críticas a Gregore no momento atual estão muito mais relacionadas à má fase logo após o retorno do futebol. Reitero que as atuações do camisa 26, de modo geral, já se assemelham a seus grandes momentos no clube, mas com uma diferença perigosa. Embora o combate siga o mesmo, a postura um tanto descuidada em alguns lances isolados tem causado prejuízos, como no pênalti em Nenê. 

É preciso evitar lances infantis que continuem jogando fora atuações consistentes. Nada de positivo valerá se a evolução no desempenho não for acompanhada urgentemente por uma ascensão definitiva na tabela. 

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 15.10.2020

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 43 - Recuperação de peças - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 08.10.2020

 

Recuperação de peças

Trocar ou reparar? É uma questão com a qual você já se deparou diversas vezes em sua vida. A melhor atuação do ano, no triunfo de ontem, por 3 a 0, contra o Vasco, representa bem que, às vezes, escolher a segunda opção pode dar certo. Além da recuperação na tabela de classificação, que parece ter sido iniciada, com dois triunfos, no intervalo de uma semana, ou três jogos, Mano Menezes parece estar buscando recuperar peças que podem vir a ser muito importantes no restante da temporada tricolor.

A grande atuação de Clayson contra o Vasco não começou ontem. A escalação da partida da quarta-feira da semana passada, com ele entre os 11, depois de uma chuva de críticas potencializadas pela perda do pênalti no jogo anterior, exemplifica bem a tentativa de recuperação. Contra o Botafogo, o camisa 25 já havia feito uma das melhores apresentações no ano e chamou a atenção por acreditar em algumas jogadas individuais que estavam sendo raras com a camisa tricolor.

Esse ainda não é o Clayson que fez o Bahia buscar a contratação, mas mostra uma evolução gigante. E ela pode estar acontecendo justamente por causa da insistência de Mano, que está ajudando na recuperação da confiança e daquele futebol que o fez ser destaque em título brasileiro no nem tão distante ano de 2017. Em três jogos, ele passou a partir para cima da defesa adversária, sem medo, fez um bonito gol, deu assistência, demonstrou raça. Mano poderia ter desistido dele, como parecia fácil. Mas não era o melhor caminho. Por causa do potencial de crescimento do jogador e também porque ele foi uma das maiores contratações da história do clube, em termos de valores. Não é um jogador emprestado que não mostra resultados e é devolvido.

É um exemplo do que me parece ser uma estratégia. Sempre fui contra o discurso sobre a falta de qualidade geral no elenco do Bahia por tudo que já vi deles, aqui ou em outros clubes, em outros momentos. E, se Mano Menezes conseguir recuperar essas peças, o crescimento talvez seja maior do que com a chegada de um caminhão de reforços. É importante dizer que, com a lenta, mas visível, melhora coletiva da equipe, as individualidades começam a aparecer ou ser notadas.

Um dos exemplos é Gregore. Acredito que as críticas que ainda são direcionadas a ele tenham muito mais a ver com a queda de rendimento após a paralisação do que com o momento atual. E cabe lembrar que foi a primeira má fase em duas temporadas e meia no Esquadrão.

Como bem disse o camisa 5 Elias, na entrevista de chegada, no futebol, para ganhar confiança, demora, mas para perder é rápido. E uma atuação consistente como a de ontem pode servir para dar uma certa tranquilidade. A escalação de ontem trouxe algumas situações interessantes. Gostei das entradas e atuações de Daniel e Rossi. A boa atuação de Ernando na lateral-direita, no final da partida contra o Sport, parecia ter sido mais motivada pela situação específica de jogo, mas Mano apostou nele na vaga do lesionado Nino, e o camisa 14 deu conta do recado, com direito a assistência incrível para o gol de Gilberto.

A opção, que não sei se funcionaria por muito tempo, ainda fez aumentar a altura e a força física da defesa, buscando evitar os temidos e repetitivos gols em jogadas aéreas de bola parada. Felizmente, a equipe terminou um jogo sem sofrer gol, algo que não acontecia desde a estreia, contra o Coritiba.   

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 08.10.2020

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Caldeirão de Aço - Semana 42 - Exemplos de recuperação - publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 01.10.2020

A história do Esquadrão é repleta de exemplos que servem para dar confiança na recuperação iniciada com o triunfo de ontem contra o Botafogo. Em 2018, por exemplo, enquanto boa parte da população mundial concentrava as expectativas relacionadas ao futebol na Copa do Mundo, disputada na Rússia, eu, mesmo fanático pela competição, ainda dividia boa parte da minha preocupação com a situação do Bahia, que, àquela altura, tal como até a rodada anterior, figurava na zona de rebaixamento da Série A, após 12 rodadas disputadas, como agora.

O triunfo contra o Corinthians, por 1 a 0, com golaço do lateral chileno Mena, justamente naquela 12ª rodada em que a competição seria paralisada, foi motivo de esperança de que aquela situação fosse passageira. O time, comandado pelo interino Cláudio Prates, jogou com Douglas (Anderson), Nino, Tiago, Lucas Fonseca e Léo Pelé; Gregore, Élton e Régis; Zé Rafael, Élber (Mena) e Kayke (Allione).

Durante a paralisação, entretanto, após a perda da Copa do Nordeste, em casa, para o Sampaio Corrêa, já sob o comando de Enderson Moreira, o que mais se ouvia, nas escadas da Fonte Nova, era que não teria como aquela equipe, que ainda tem seis remanescentes no clube, garantir a permanência do clube na Série A. Sem público nos estádios, o discurso visto agora na internet é muito parecido. Desde a crítica generalizada à qualidade dos jogadores até a cobrança incessante por reforços.

Na prática, aquela campanha, que terminou com um 11º lugar, foi alcançada com praticamente a mesma escalação contestada naquele momento. A agonia não demoraria tanto e a equipe logo se encontraria, deixando aquela aflição para os outros. Na volta da Copa do Mundo, a equipe ficaria sete rodadas invicto, totalizando nove, somando com as duas antes da parada. Sobre as contratações, tão pedidas em 2018 e agora, apenas Gilberto, que encerrou longo jejum ontem, chegaria para tomar conta da camisa 9, garantindo os gols que, tal como agora, faltavam naquela época. Do restante da equipe, apenas Ramires, que seria promovido da base, garantiria um lugar entre os 11, em posição que antes contava com o rodízio entre Régis e Vinícius. Além de Edigar Júnio, que estava lesionado e retomaria a vaga de titular. O exemplo indica que contratações pontuais acertadas talvez possam fazer mais efeito do que uma reformulação geral cobrada sempre em momentos de crise.     

Esse foi o exemplo mais recente e mais parecido com a situação atual, até por causa do momento do campeonato, mas o Bahia já reverteu situações piores para permanecer na Série A. Em 2017, por exemplo, o time chegou a figurar na zona de rebaixamento em um momento anterior do campeonato, mas a situação mais crítica parece ter sido quando, faltando 12 rodadas, apesar de estar na 13ª posição, tinha apenas um ponto a mais que a zona de rebaixamento, e não conseguia evoluir de jeito algum. Paulo César Carpegiani, o quarto treinador, conseguiu organizar o time, que deu um salto em desempenho e resultados, e chegou a sonhar com a Libertadores, terminando em 12º. Em 2013, a permanência só foi carimbada após o sofrido triunfo da penúltima rodada contra o Cruzeiro. Sem falar do inesquecível gol de Edmundo contra o Flamengo que evitou a queda em 1996.

Agora em 2020, independente dos resultados, que não estavam acontecendo, identifico uma clara evolução nas três partidas mais recentes, contra Corinthians, Athlético e Botafogo, todas como visitante. Se as coisas estavam dando errado mesmo com boas atuações, ontem a estrela voltou a brilhar em lances como a perda de gol inacreditável do atacante Babi.

publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 01.10.2020