Alvo de muita bronca da torcida, depois de duas rodadas em que deixou escapar um triunfo, que teria sido muito importante contra o São Paulo, e acumulou o terceiro revés seguido contra o Ceará, o Bahia tem um atípico intervalo entre um jogo e outro para recuperar fisicamente os jogadores, identificar e corrigir os erros e amplificar as virtudes, afinal só volta a campo no sábado contra o Palmeiras.
Além do campeão paulista, o Esquadrão enfrentará, em uma sequência pesada de quatro jogos, o campeão brasileiro e da Libertadores, Flamengo, o atual líder, Internacional, além do Grêmio, sempre apontado entre os postulantes ao título. Sem desprezar todo o peso histórico do São Paulo e a atual classificação da competição, em que o tricolor paulista figura à frente de Flamengo e Grêmio, ousaria dizer que os quatro próximos oponentes seriam superiores aos quatro anteriores.
Motivo de desespero? Não necessariamente. Se apontei o São Paulo como um pouco inferior atualmente aos quatro próximos adversários, também o apontaria como superior aos outros três anteriores – Coritiba, Red Bull Bragantino e Ceará. E contra qual dos oponentes, o Bahia teve a melhor atuação até agora? Na minha opinião, contra o São Paulo, melhor deles. Justamente por isso, por mostrar que o triunfo era possível e estava na mão, o empate sofrido no final frustrou e revoltou tanto a torcida.
A mística tricolor de crescimento nas adversidades e a forma de atuar da equipe, que parece mais moldada para confrontos contra equipes mais fortes do que quando precisa lidar com o favoritismo, animam a acreditar que os bons resultados possam retornar nos próximos jogos, acompanhados de grandes atuações.
A sequência de quatro próximos compromissos trouxe recordações de um momento de extrema apreensão no Brasileiro de 2017, quando Paulo César Carpegiani assumiu o comando do Bahia. Embora a preocupação deva existir agora, depois de duas rodadas frustrantes, naquela ocasião, havia muito mais motivo para esquentar a cabeça de cada tricolor. Afinal, faltando 12 rodadas, o Bahia estava em 13º lugar, apenas um ponto à frente da zona de rebaixamento. Além disso, o clube havia acabado de retornar à Série A, ainda não tinha conseguido fazer campanhas seguras na primeira divisão com pontos corridos e os resultados não vinham. Carpegiani já era o quarto treinador.
A sequência de jogos era agravante. Pela frente, Palmeiras (vice-campeão daquele ano), Corinthians (campeão), Flamengo (sexto colocado), além da rivalidade como componente complicador no clássico Ba-Vi. Os sete pontos acumulados nos 12 em disputa contra esses quatro oponentes, além das boas atuações e o triunfo contra o rival, deram importante impulso para as cinco rodadas seguintes, em que alcançou 11 dos 15 pontos disputados, garantindo a manutenção na Série A e se colocando na disputa por vaga na Libertadores, depois de muitos anos. Um ponto apenas nas três rodadas finais acabou com a esperança.
Não sei por qual motivo, mas os confrontos do Bahia contra Flamengo e Palmeiras geralmente têm vindo sempre próximos nas tabelas dos Brasileiros mais recentes. E, no ano passado, assim como agora e em 2017, olhar para os próximos jogos e ver os nomes dos dois times causou apreensão. No primeiro turno, o Tricolor vinha de cinco jogos sem vencer e iria encarar os dois. Um triunfo por 3 a 0 contra o Flamengo, na Fonte, e um empate, em 2 a 2, contra o Palmeiras, em São Paulo, resgataram a confiança da equipe, que completou uma boa metade de campeonato.
publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 27.08.2020