Todo
torcedor tricolor sabe que “59 é nosso”. E tal façanha, que tanto nos orgulha,
completa 60 anos no próximo domingo. Foi no dia 29 de março de 1960 que um
grupo de guerreiros inesquecíveis colocou de vez seus nomes na história do
Bahia e do futebol do País, com a conquista do primeiro Campeonato Brasileiro.
Curioso
é que, assim como o Brasileiro de 1988 foi conquistado pelo Bahia no ano
seguinte, o mesmo aconteceu com a Taça Brasil de 1959, finalizada em 1960.
Juntos, são os títulos que mais orgulham todo torcedor do Esquadrão, que ostenta
em suas camisas, acima do distintivo, as duas estrelas alusivas às conquistas
nacionais.
É
bem verdade que as duas estrelas apareceram juntas em 1989, já que, antes
disso, o Bahia não usava nenhuma em seus uniformes ou distintivo avulso. No
entanto, a primeira nasceu, de fato, em 1960 e, desde então, já estava guardada
no coração de cada tricolor, esperando a segunda estrela, sua companheira, para
brilhar.
Comandado
pelo treinador Geninho até a segunda partida da decisão, o Tricolor chegou ao
título com o argentino Carlos Volante no comando, na terceira partida da final.
O time da decisão foi: Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nenzinho; Flávio e
Mário; Marito, Alencar, Léo Briglia e Biriba. Outros jogadores atuaram durante
a competição como Leone, Florisvaldo, Bombeiro, Bacamarte, Ari, Carioca e Jair.
Não
bastasse o fato de ser campeão brasileiro, e de ser o primeiro, o torcedor tem
um adicional que engrandece ainda mais a conquista: o adversário da decisão. O
Santos, de Pelé, melhor jogador de futebol de todos os tempos para a grande
maioria das pessoas que o viram jogar. O rei do futebol tinha conquistado a
primeira de suas três Copas do Mundo menos de dois anos antes, na Suécia, em
1958.
E
aquele Santos não contava “apenas” com Pelé. Outros três campeões mundiais de
1958 o defendiam: Mauro, Zito e Pepe. Além de jogadores lendários como Dorval e
Coutinho, um dos maiores parceiros de Pelé na história. O nível do adversário
engrandece a conquista tricolor, mas é preciso valorizar ainda mais os
atributos do Bahia, o melhor entre os 16 participantes da competição, que foi
disputada por campeões estaduais. Foram nove triunfos, dois empates e três
derrotas nas 14 partidas realizadas. Teve ainda o artilheiro da competição,
Léo, com oito gols.
O
conjunto era muito forte, mas, para quem viu jogar, também havia espaço para
outros destaques individuais, como Marito, ponta franzino e driblador, que
entortava os marcadores, ou Alencar e Biriba (9º e 10º maiores artilheiros do
clube, com 116 e 113 gols, respectivamente). Lembro que, quando estava
escrevendo o meu livro sobre o título de 1988, entrevistei o cronista
desportivo Chico Queiróz, que destacou as qualidades de outros jogadores como
Nadinho, Henricão e Florisvaldo, mas apontou o meio-campista Mário como o mais
talentoso.
Na
época, em cada fase, poderiam ser dois ou três jogos. Se houvesse empate em
pontos após as duas primeiras partidas, não importando o saldo de gols, seria
necessário um jogo de desempate. O Tricolor superou cinco fases eliminatórias
para chegar ao título, passando por CSA, Ceará, Sport e Vasco, antes de encarar
o Santos.
Na
decisão, o Bahia começou perdendo o primeiro jogo, na Vila Belmiro, com um gol
de Pelé, mas virou e terminou o jogo com um triunfo, por 3 a 2, com dois gols
de Alencar e um de Biriba. No segundo, um empate, na Fonte, garantiria o
título, mas o Tricolor perdeu, por 2 a 0, com gols de Pelé e Coutinho. Com
isso, foi realizada uma terceira partida, no Maracanã. E o Esquadrão venceu, de
virada, por 3 a 1, com gols de Vicente, Léo e Alencar. E, desde então, “59 é
nosso!”.
publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.03.2020