Não
vá à Arena. Vá à Fonte. Essa não é uma campanha contra naming rights ou qualquer coisa parecida, até porque dificilmente
você vê alguém dizendo que vai à Arena Itaipava Fonte Nova, ou que já foi ao
estádio Octávio Mangabeira. Essas nomenclaturas servem mais como recursos que
nós, jornalistas, usamos por diversas vezes apenas para não repetir uma palavra
em um texto. Desculpe-me, então, por fazer transbordar de Fonte essa escrita.
A
minha campanha solitária, se é que se pode chamar assim, tem a ver com o
resgate de uma tradição – sim, quem me conhece sabe o quanto sou
tradicionalista. Nada contra quem prefere chamar a casa do Bahia de Arena.
Imagino que seja até uma tentativa de agregar modernidade – corro longe -, ou
mesmo para diferenciar do antigo estádio. Para esses fins, de forma pontual,
sugiro chamar de Velha Fonte, com todo o carinho e respeito que ela merece.
No
entanto, insisto em pensar: há necessidade de separar? O sentimento envolvido
deve ser o mesmo. É a casa do Esquadrão. E é um dever que o Bahia, como
instituição, vem tentando cumprir: fazer o torcedor, não importando a sua
condição, sentir-se em casa na Fonte. Alguns planos de sócios, inclusive, foram
lançados com esse objetivo, como o ‘Bermuda e camiseta’ e o ‘Bahia da Massa’.
Deve-se
dizer também que Arena é um termo genérico utilizado para identificar tantas e
tantas praças esportivas pelo mundo. E, no Brasil, o termo pegou mais para
identificar o mando de campo do Athletico Paranaense. Já a Fonte é única, em
cada um dos seus aspectos, a começar pela arquitetura que impressiona, seja no
projeto original ou no atual. E que tem vida quando repleta de azul, vermelho e
branco.
Há
de se admitir também que Arena é um termo muito frio, enquanto Fonte é quente,
como uma tarde de domingo na ... Fonte Nova, claro. Sem contar a identidade do
estádio, que é parte da cultura dos baianos. Há até uma camisa lançada pelo
Bahia que capta um pouco da essência da relação que o torcedor tricolor tem com
a sua casa, através da expressão: “nascido e criado na Fonte”.
Por
tudo isso, espero que o Bahia jogue na Fonte no próximo ano, como a sua
tradição manda. Fazendo com que os adversários tenham medo. Em 2019, durante um
tempo, foi assim. O respeito estava evidente em qualquer que fosse o time a
cruzar o caminho do Esquadrão na Fonte. Sequências de bons resultados criaram
um ambiente favorável, que deve ser resgatado em 2020. Que o torcedor mantenha
sempre clara em mente a diferença entre torcer e comemorar. E que é importante
que empurre o time durante o jogo para que possa comemorar ao final.
O
Tricolor chegou a enfileirar quatro triunfos nos quatro primeiros jogos como
mandante no Brasileiro, contra Corinthians, Avaí, Fluminense e Grêmio (este em
Pituaço), e fechou o primeiro turno, vencendo seis jogos e perdendo apenas um
dos dez jogos. A participação incluiu o triunfo de 3 a 0 contra o futuro
campeão brasileiro e da Libertadores, Flamengo, já com o treinador português
Jorge Jesus, em partida que exemplifica bem o poder do Esquadrão em sua casa,
ao lado da torcida.
No
segundo turno, entretanto, apenas um triunfo em casa, contra o Botafogo. Ao
todo, no ano, em 34 jogos, o Tricolor foi vencedor em 15 partidas, tendo saído
de campo com o empate outras 11 vezes. Que o desempenho anterior seja resgatado
e mantido até o final da temporada em 2020. Se isso acontecer e o bom
desempenho fora de casa que foi obtido em 2019 for mantido, o Bahia pode dar um
salto importante nas competições que estarão em disputa.
publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 26.12.2020