Quando
estava a caminho da Fonte Nova no dia 11 de novembro de 2001, junto com meu pai
e irmãos, não poderia imaginar que estaria prestes a presenciar um momento
histórico para o futebol. O Bahia enfrentaria o Paraná e, no momento, um dos
atrativos era a boa campanha do Tricolor, que caminhava para garantir vaga nas
quartas-de-final do Brasileiro, restando cinco rodadas para o final da primeira
fase. Mas as ausências do lateral Denilson e do versátil Mantena abriram espaço
para a estreia de uma jovem promessa de 18 anos.
As
lembranças desta partida vieram à tona ontem, no dia 6 de maio, quando a tal
promessa completou 37 anos de idade. Aquele jovem e desconhecido Daniel hoje é
conhecido em todo o planeta como Daniel Alves, ou Dani Alves, e é considerado
como um dos maiores jogadores da sua posição na história, além de ser um
comprovado imã de títulos, como a passagem por diversos clubes e pela Seleção
comprovam.
Bobô,
que era responsável pelas divisões de base do clube à época, já me contou que o
mestre Evaristo de Macedo, treinador tricolor em 2001, solicitou um
lateral-direito da base para completar os treinos. Foi quando o antigo camisa 8
escolheu Daniel, que tinha sido descoberto no Juazeiro.
Segundo
Bobô, após o primeiro treino, Evaristo ligou, reclamando sobre o jogador
escolhido. Por já conhecer o treinador de longa data, e saber que ele gostava
de fazer esse tipo de jogo, ele deu corda. Disse que tudo bem, que iria
selecionar outro lateral para o próximo treino. Então Evaristo teria dito que
poderia mandar Daniel novamente. Continuava reclamando nas conversas com o
antigo comandado, mas bancou a estreia de Daniel e certamente não se
arrependeu.
Naquela
tarde de domingo, o Bahia enfrentaria o Paraná, logo depois de levar 6 a 3 do
rival Athletico Paranaense, na Arena da Baixada, em um jogaço. A luta para a
classificação continuava e o Esquadrão precisava voltar a vencer. E logo no
início a personalidade do novo lateral-direito chamou a atenção. Com quatro
minutos, cruzou para área, o defensor adversário cortou com a mão e foi marcado
o primeiro pênalti do jogo. Robgol cobrou com a tradicional categoria e abriu o
placar.
O
lateral-direito continuou se destacando e, no final do primeiro tempo, Robgol
aproveitou um recuo errado para o goleiro e ampliou. Na segunda etapa, Daniel
foi derrubado na área. Robgol, melhor cobrador de pênalti que vi no Bahia, fez
o terceiro na partida. Depois daqueles 3 a 0, ele não esteve em campo apenas em
um empate contra o Coritiba. Nos outros três jogos da primeira fase, contra Gama,
América Mineiro e Sport, três triunfos. E um empate contra o São Caetano, nas
quartas-de-final, encerrou a campanha tricolor.
No
ano seguinte, Daniel conquistou o primeiro título da carreira, quando o Bahia
venceu a Copa do Nordeste, derrotando o Vitória na decisão. No primeiro jogo,
na Fonte Nova, um 3 a 1, com gols do trio de ataque formado por Sérgio Alves,
Robgol e Nonato. No Barradão, Nonato decidiu, com dois gols, no empate por 2 a
2.
Depois
de ser negociado com o Sevilla, em 2003, foi campeão mundial sub-20 com a
seleção brasileira. Nas temporadas 2005/2006 e 2006/2007 foi um dos
protagonistas do bicampeonato da Copa da Uefa. Na temporada 2008/2009, chegou
ao Barcelona, onde conquistou três Mundiais de clubes, três Ligas do Campeões
da Europa e seis campeonatos nacionais. Na Juventus, foi campeão italiano uma
vez, e no PSG venceu dois franceses. Na Seleção, disputou as Copas de 2010 e
2014.
publicado originalmente no Jornal A Tarde do dia 07.05.2020
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